quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ozzy e Randy Rhoads, e esqueçam o morcego!



Devido a uma polêmica gerada no facebook, decidi na última hora alterar o tema do post de hoje, precipitando uma escolha temática que na certa era futura.  

De tudo o que se possa dizer sobre John Michael Osbourne o mais sóbrio é que há muito o que contar sobre sua carreira, tanto que é inconcebível esgotar o assunto num único livro, ou em quarenta. Até aí nada que o torne tão especial, uma vez que não se trata do único grande realizador da história do RocK N' Roll, porém, poucos souberam como Ozzy produzir e ser protagonista por tanto tempo da história do Rock N' Roll moderno, atualizando-se sempre, mas nunca se desfigurando por esses comercialismos desviados. Mesmo nas fases mais empresariais Osbourne nunca deixou de ser Ozzy, ao contrário, compunha com o mesmo vigor e na companhia das melhores bandas. 


Ozzy e Slash


Falar sobre Ozzy para um público irrestrito é um desafio na justa medida, assim como foi escrever sobre Ronnie James Dio, ou como seria tecer comentários a respeito de Paganini.


Consta da minha infância mais remota uma história que guardo comigo como nenhuma outra, e narrada por meus pais. Era um instante de ruidosa agitação para mim e minha mãe (segundo a qual estava eu em seus braços), mas para o meu pai eu estava no colo dele. Fosse no colo de um ou de outro eu chorava, me contorcia; meu desejo, um indecifrável mistério. Mas o segredo descoberto pela fantástica intuição de minha mãe calou minha angústia, me fez dormir em seus braços, bebê Camillo agora sereno, entorpecido por uma cantilena vigorosa, embalado pelos riffs sensacionais do titio Tony, pela musicalidade consistente, inventiva e marcante dos tios Bill e Butler. A banda: Black Sabbath. O álbum, Sabbath Bloody Sabbath, de 1973. As músicas: Sabbath Bloody Sabbath, A National Acrobat e Fluff, minha cantiga de ninar oficial. 

"Fluff", minha (linda) canção de ninar.


Contracapa  do álbum Sabbath Bloody Sabbath

A pergunta é: existe algum parâmetro para a voz de Ozzy? Não me refiro à voz atual, mas a da sua juventude e maturidade. Que potência, que timbre único! 


Essa foi a primeira música que ouvi no colo de minha mãe. Desde então, o riff fabuloso da introdução, um dos melhores de todos os tempos e a voz de Ozzy jamais abandonariam minha mente. 


Já ouvi muitos vocalistas conseguirem se aproximar do timbre de Jim Morrinson, Elvis, Dio, mas do Ozzy nunca, jamais nenhum outro vocalista nem tentou, tamanha é a personalidade desse britânico endiabrado. O episódio do morcego teria ocorrido durante a turnê do álbum Diary of a Madman, de 1982, quando algum fã lançou ao palco o tal bichinho. Ozzy nunca reagiu bem a substâncias químicas como álccol, por exemplo, o que lembra Stevenson e seus personagens Dr. Jekill e Mr. Hide. Sob o efeito de drogas Ozzy é o monstro e por isso pegou o morcego no palco e o colocou na boca. Destino: o hospital mais próximo. Esse evento se popularizou até se tornar uma lenda, assim como o próprio Ozzy, com a diferença de que este já era uma, portanto, não precisaria de nenhum acontecimento bizarro para se promover; estava no auge de sua carreira solo, já há muito consagrado por uma década de música e revolução musical no Black Sabbath. Esse tornar-se popular me soa sempre estranho para um músico que circula nos backstages do Heavy Metal. 


Ronnie James Dio e Ozzy


O Metal é o gênero mais popular do mundo, e ao mesmo tempo é como Pixinguinha, Strauss, Lehar, Bizet, Mozart, Beethoven, Vivaldi, Rossini e Suppé, é música para muitos, mas que a mídia comprometida com o discurso de uma elite de velhos decrépitos insiste em não dizê-lo e diz que é para poucos. Não me espanta quando Ozzy afirma que não assistiu nenhum episódio do reality show do qual ele foi o protagonista. Imagina!  




Em 1980, no seu primeiro álbum solo já cantava sua impaciência com assuntos longos, ou sem objetividade: 

"People look to me and say(...)
Asking me who is right,
Asking me who to follow,
Don't ask me,
I don't know! "
     




Tradução:

"As pessoas olham para mim e dizem(...)
Tem de acreditar em alguém,
Me perguntando quem está certo,
Me perguntando quem seguir,
Mas não me pergunte,
Eu não sei!"






No álbum No More Tears, ele voltaria a cantar esse tema na música I Don't Wanna Change the World"
    
"Don't tell me stories"

(...)

"I don't wanna change the world
I don't want the world to change me"





Final dos anos 70. Ozzy se sentia muito inseguro com o rumo de sua carreira, afinal tantos álbuns depois, e tanto sucesso até deixar (ou ser deixado) o Black Sabbath, que encontraria em Ronnie James Dio o substituto à altura. Mas e o que aconteceria dali para frente, sozinho? 


Reparem amigos autorizados na expressão do Ozzy, ao final do vídeo, como que não acreditando ele observa sua banda de queixo caído: "Por Deus, é verdade mesmo, essa banda magnífica é minha?" 

Não posso deixar de mencionar: neste vídeo o sensacional baterista é Tommy Aldridge, que já tocou em  muitas bandas fundamentais, como Gary Moore, Thin Lizzy e Whitesnake. 


Randy Rhoads era o guitarrista de uma banda que se consagraria no cenário hard rock: Quiet Riot. Foi então muito disputado, tamanho era o seu talento. No fim Ozzy venceu a disputa e ficou com Rhoads. 


Estavam postos em cena os protagonistas de uma história de enorme alegria e profunda tristeza, a história mais feliz e ao mesmo tempo a mais triste da carreira do Ozzy, acredito eu.  


Randy Rhoads

O primeiro álbum solo, Blizzard of Ozz, foi lançado com uma sequência de músicas que se tornaram clássicos imediatos: 

I Don't Know, Crazy Train (solo maravilhoso), Suicide Solution, Mr. Crowley (um dos solos de guitarra mais bonitos da história), e Goodbye to Romance, música que dá a dimensão da amizade entre Ozzy e Rhoads. Aquele cantarolava uma melodia, quando o jovem, porém exímio guitarrista lhe perguntou de quem era. Ozzy, inseguro e hesitante não disse, desconversou. Randy Rhoads insistiu até ouvir o amigo confessar que a canção era dele próprio. Randy insistiu para que gravassem a música. Foi o que aconteceu. Gesto de confiança que iluminou o futuro de Osbourne, unindo os dois amigos para sempre. 


Rhoads revelou numa entrevista que se dedicaria à música clássica, mas não deu. 

Ozzy


Randy Rhoads morreria aos 26 anos num trágico acidente de avião, em 19 de março de 1982. Com uma perda tão estúpida, tão prematura, de um jovem tão genial, seu grande amigo, Ozzy entrou em profunda depressão. 


Ozzy e Randy Rhoads

Em 1986 foi lançado um belíssimo álbum ao vivo em tributo à Randy Rhoads com performances irretocáveis do gênio. O que dizer da lírica Dee? 

        
Mas Osbourne, como se esperava, fez jus ao espírito Rock n' Roll, superando sua tristeza, o terrível luto, e seguindo em frente. Lançou o maravilhoso Bark at the Moon, em 1984, assumindo a guitarra, tanto a base quanto a solo o espetacular Jake E. Lee.  Aos cinco anos eu me lembro que procurei o vinil do meu pai, Sabbath Bloody Sabbath; desde que o ouvi no colo de minha mãe jamais deixei de escutá-lo, porém, meu pai havia perdido, resultado, fiquei três anos sem ouvir o vinil do Sabbath. No ano em que eu completei oito anos de idade tivemos o primeiro e incomparável Rock in Rio, trazendo Ozzy como uma das atrações. Como não pude ir, pedi meu pai de presente a fita cassete do festival e lá tinha a música Bark at the Moon. 


É absurdo o que essa banda faz nesse show, Ozzy está no seu auge, e Jake E. lee então, de um talento, um 'drive' de tirar o fôlego, disciplina musical, e uma modernidade  indestrutível.   

Foi a primeira vez que ouvi a carreira solo do Ozzy, mas ainda não sabia nada sobre bandas de Rock, e não me lembrava do Black Sabbath; até ouvir essa música do Ozzy. A voz dele ecoou na minha mente e eu passei um bom tempo achando que aquela era a música que tinha ouvido no colo da minha mãe. Mais tarde descobri que se tratava do mesmo vocalista, mas em outra banda, portanto, de maneira incrível havia emergido do meu subconsciente a lembrança remota do Black Sabbath unicamente pela voz marcante de Ozzy Osbourne.       

Ozzy em Bark at the Moon

Em 1986, Jake E. Lee permanece na banda, na fase mais glam do Ozzy, lançando o ótimo The Ultimate Sin, sobretudo por Jake E. Lee, com seus solos e bases memoráveis. 



Jake E. Lee tocando uma barbaridade!!!

Que música linda!!!!!!!!!
(admitam detratores do grande 'Madman'!)


Em 1988 o álbum No Rest for the Wicked sai nas lojas trazendo Zakk Wilde nas guitarras e Geeze Butler, (superbaixista!) do Black Sabbath, de volta a gravar com Ozzy. 


Ozzy e Zakk Wilde


Com os riffs potentes e precisos de Wilde, o álbum é um sucesso, antecendo um êxito ainda maior, o de No More Tears, que abre uma nova fase na carreira do Ozzy, principalmente visual, quando ele adota os óculos redondos.  


E do No More Tears em diante a carreira do "Madman" Osbourne continuou, nem tão brilhante, é verdade, porém, a aparição de um jovenzinho japonês foi para mim no mínimo emocionante. Ninguém antes dele havia conseguido tocar aproximando-se do espírito, da pegada e da sensibilidade de Randy Rhoads.  


Os solos ainda que tocados com as mesmas notas jamais transmitiam a mesma emoção, nem parecida. É como cantar as últimas notas de Nessun Dorma; é para muito poucos, como Placido Domingo, que conseguiu dar a elas a amplitude correta e a emoção justa. Quase 30 anos depois da morte de Rhoads surge um menino que executa o que nenhum grande guitarrista conseguiu até hoje, tocar com o mesmo espírito do legendário guitarrista, o primeiro de Ozzy Osbourne, o primeiro de todos os guitarristas modernos. 


A musicalidade de Randy Rhoads renasce através dos dedos mágicos de Yuto Miyasawa e acena para um grande futuro do Rock, mais digno e reluzente. 

     
Até semana que vem...

XXXIV


Deixo meus queridos leitores com essa pequena pérola, Dee, composta e executada por Randy Rhoads.

11 comentários:

Ana Beatriz Manier disse...

Quer dizer que baby Landoni só parava de chorar ouvindo metal? Sua cara. Excelente post. Até Andréa irá se render.

Andréa Amaral disse...

Já me rendi, Ana. Aliás, como sempre, quando se trata dos textos de Camillo.
Fiz questão de ler seu texto ao som de sua cantiga, por isso, compreendo que falar de Ozzy é o mesmo que criticá-lo (você, Camillo).
Devo admitir que ouvir uma pérola dessas é algo que marca o coração pela eternidade. E nada como ler a biografia de uma celebridade para entender as razões que o tornam amado ou odiado (não é à toa que ele se tornou uma lenda).
Obrigada por nos deliciar com um texto tão leve, bem escrito e esclarecedor.
Porém, apesar de poder atestar através dos clips que vc postou que ele possui música de qualidade também, mantenho minha palavra de que jamais dispenderia meu dinheiro comprando um cd dele. Apenas gosto pessoal.
Ótimo fim de semana e mais uma vez, parabéns. Você nasceu para escrever.

Unknown disse...

Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa,
que post mais pqpnossamãepuxavidacarácoles!!!! KCT, como dizem os mineirinhos (acho lindo) "Emocionei"! As músicas são demais, Ozzy tem personalidade elevada a máxima potência. Ele canta, interpreta, tudooo!
O que é o Yuto Miyasawa???
q fofura!!!!!

O que dizer do bb Landoni?
Por isso vc é assim!!!
Bjocassssssssssssss, obrigada pelo post!!!

Lohan Lage Pignone disse...

Excelente postagem, ''baby Landoni''! (Essa vai pegar aqui, se prepara, rs). Uma mini biografia, eu diria, de uma leveza incrível; é quase tangível no texto a paixão que você sente, a admiração, enfim, por essa banda. Isso é ser escritor, isso que move um escritor: a paixão, a admiração por cada letra.

Caramba, o Rhoads morreu com 26 anos num acidente de avião?? Que trágico, cara... Não sabia disso...

Obrigado e ah, gostaria que comentasse mais a respeito da polemica do facebook aqui nos coments, to meio por fora.

Abração!

Landoni Cartoon disse...

Ana, só! A prova de que alimento para mim desde muito cedo não se resumia a substâncias concretas, sólidas ou líquidas.

Palavras da Andréa: "Já me rendi"

Não era minha intenção fazer dela a mais nova fã do Ozzy, mas acho que todos entenderam isso. rs

Andréa, essa pérola de 'berceuse' marcou sim o coração do Baby Landoni. Eu e meu amor e admiração por bandas como Black Sabbath são indissociáveis.

Imagina, Andréa, eu é que tenho a agradecer por fazer parte desse blog onde posso ter respostas sinceramente animadoras e de suma importância para quem escreve a fim de ser entendido e não para se tornar mais uma coruja empalhada numa dessas academias de letrados onipotentes.

Não precisa comprar Cd, baixa pelo Soulseek, Dreamule, Torrent...

brincadeira XD

Eu nasci pra escrever, adorei, mas será que eu nasci pra vender bem o que eu escrevo? Paulo coelho, me ajuda!!

Thaty, vc e o Ozzy têm algo em comum: personalidade elevada a máxima potência. Seus palavrões de entusiasmo são melhores e amis importantes que qualquer prêmio que eu possa receber algum dia.

Lohan, estou preparado, se pegar tanto melhor, Baby Landoni assumirá essa sua nova alcunha, quase um heterônimo. Quem sabe... rs

É muito gratificante saber que consegui transmitir o mais importante: paixão. Ainda que eu tenha tudo, imóveis, carros, sucesso, de nada me adianta se meu coração estiver apagado, longe da garota que amo.

Foi, e o pior é que tudo o que aconteceu foi presenciado pelo Ozzy porque o avião de pequeno porte caiu quase em cima do ônibus onde o Ozzy viajava.

A polêmica no Facebook rsrs, claro!

Tudo começou com a Camilla, senão me engano, que deu sua opinião a respeito do Ozzy, contrária a minha, mas o motivo que e fez escrever sobre o Ozzy foi a Andréa, que no seu comentário questionou a musicalidade da banda Ozzy Osbourne, aí eu reagi e devidamente provocado prometi que escreveria um post sobre o tema.

Resumindo, foi isso que aconteceu.

Quero agradecer demais a todos que leram e gostaram do meu post. Nem imaginam o quanto é bom ler o comentário de todos. Mas se tiverem alguma crítica a fazer, por favor, estejam à vontade, algum pedido...

Abraço em todos!

Camila disse...

A polêmica foi minhaaa, lárálárálá... O post no face era meuoooo :p
Xará, muito obrigada pelo post esclarecedor, realmente um trabalho e tanto! O cara tem história, é uma biografia para ninguém botar defeito e eu nunca tive nenhuma dúvida de seu valor musical. Eu realmente não me identifico com o som que ele produz e seu post até serviu pra reafirmar isso em mim. Mas, cara, estamos falando de uma lenda viva, e ninguém chega a isso à toa! Os traços afetivos que compõe seu texto são um show à parte na escrita desse texto. Ficou uma biografia fofa, digamos.
Valeu, adorei!

Vitor Gianonni disse...

So podia ser a professora mais fodástica do mundo pra indicar pra gente eese blog.Valeu, Tati! E eu achando que só iria achar postagens chatas.
Ozzy foi foda, porra muito show esse texto!

Vitor (turma de comunicação e Linguagens)

Anônimo disse...

Gostaria de compartilhar uma experiencia minha com o OZZY.
O ano era 1985, o mês janeiro, eu tinha 21 anos e estava expremido entre milhares de fãs no gargarejo do show da Rita Lee, de repente o palco começou a pegar fogo, correria geral, era a profecia de Nostradamus vindo a tona, não sai de onde estava, afinal o próximo show era do Ozzy e eu estava na primeira fila. Ele entrou com a camisa do Flamengo nunca mais esqueci da cena. Na época eu já possuia todos os LP do Black Sabbath e do Ozzy. Hoje além do LPs, tenho todos os cd e mais 4 dezenas de bootlegs. Outro dia minha esposa olhou para min e disse "você ainda gosta destas coisas". a esposa é a Ana Beatriz

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=m57GAObtnwE

Anônimo disse...

Que blog foda, rock & roll, caláleoooooooooooooooooo

Anônimo disse...

Achei que falaram pouco do Zakk Wylde, sendo que Ozzy ao seu lado teve o maior sucesso de sua carreira em No More Tears. E também, a banda teve uma postura mais séria.