segunda-feira, 30 de maio de 2011

León Bloba

Condição na competição:
Campeão
Data de nascimento: 18/08/1987
Venceu:
1 Campo Platônico
Venceu:

A enquete-bônus (Final)
Cidade:
Rio de Janeiro, RJ
Profissão:
Estudante de Artes Cênicas e professor de teatro para terceira idade
Gosto literário: Paulo Leminski, Cecília Meireles, Mário Quintana, Michel Melamed, Arnaldo Antunes, Florbela Espanca, Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos, García Lorca.

Partido político:
Não possui.
O que significa vencer este concurso: Para León, escrever sempre foi tarefa necessária , sem vaidades, por expressão, construção de uma linguagem.
Segundo ele, as pessoas vivenciam diversas experiências, diversas sonoridades das palavras, com muitas imagens e, tendo isso tudo em mente, chega um momento em que dá vazão a tudo isso. León já participou de alguns concursos na adolescência e não mais se inscreveu para concursos, desde então. Quer retomar essa prática para ser avaliado, dar conhecimento à sua palavra, fazer passá-la por vários olhos. León vê essa primeira edição do concurso como oportunidade, pois se trata de um concurso de linguagem nova e tem um diferente processo de avaliação. Para ele, passar pelas etapas do concurso e chegar à final já será um bom exercício de escrita - o que o instiga.
O que o tempo representa para León Bloba?
O tempo em mim é sentido ainda com leveza. Sou novo e percebo a distância dos eus que espalho. E não estão no passado - estão dentro de mim. Tempo é o fragmento de sucessivos agoras, que não passam, nem virão, estão sempre presentes.
Poema n°1 (pré seleção): Insólita

A língua procura para um dueto
Teu lábio insueto, sisudo sorriso.
Minha boca sonâmbula,
Insólita, perdida,
Sonhando seu toque
No sonho se guia.
Cigana noturna,
Nômade passeia.
Em meu pensamento
Murmura teu nome,
Serpente insone.
Dormente ela dança,
Balança ela louca
E lambe dormindo
Um céu estrelado
No sonho assanhado
No céu de sua boca.
O beijo é o encontro,
Um poço profundo...
Imaginar tua boca
É recriar outro mundo!

Em sonho sonâmbulo,
Meu lábio aflito,
Procura o seu lábio
Num sonho infinito.
O real se faz sábio:
Acordado não sinto.
Que louca essa boca.
Tão pouca em si arde
Que busca outra boca
De outra cidade.
Se embrenha no sono
E mais cedo ou mais tarde
Encontra o seu dono
No sonho que invade.

Poema nº 2 (Top 17 - O Velho e o Tempo): Fragmento


Rompem as portas.
Sopra o tempo.
O velho tem poesia
Pra contemporizar.
Conversa com o tempo
Em telepatia -
O velho se completa
Ao se contemplar.

Abrem as comportas.
Jorra a memória.
O velho é a experiência
De se resgatar.
Com verso no tempo
Da reminiscência -
O velho se desvenda
Ao se reinventar.

Alisam as barbas.
Escorre a história.
O velho é a saudade
Ao tempo saudar.
Futuro presente passado,
O antes-até-agora invade -
O velho espera na esfera
Ao se fragmentar.

Poema nº 3 (Top 15 - Haicais): Arrebol

Tarde colorida
que em arrebol se finda -
aí cai o sol.

Poema nº 4 (Top 13 - Crítica Social): Bueiro

O poema explode o dia
Como a tampa de um bueiro,
Por não saber de silêncio,
Derrubando o sigilo.

Estrondo de parar trânsito,
Cachão que espoca vida,
Palavras a mais que se espalham.
Proeza provém da poesia.

É próprio fazer este alarde.
Como se aplica, é estúrdia.
Somente porque ele respira.
Semente porque ele é balbúrdia.

Vazão com toda a sua força -
Verão do bueiro estilhaços.
Manchete que jorra a farra
Diante de olhos tão baços.

Falando do nunca falado,
O poema se arremessa
Rompendo com todo o sentido -
Perigo de quem vive a pressa.

Altamente corrosivo,
Chovendo na rua repleta
Sobre os chapéus que protegem,
Como uma chuva de setas.

Imprime naquele que oprime,
Margeia as linhas do lado,
Esfola com tanta coragem,
Mitiga o cristalizado.

Esmola pro oprimido.
Audácia pro conformado.
Escola pro dividido.
Certeza pro descolado.

O poema tudo desnuda
Em sua natureza pelada,
De mostrar o que está escondido
Dentro deste “fazer nada”.

O poema explode a tampa -
Grande parte está por baixo.
Estampa o olhar que espanta
O marajá e o populacho.

Todos vêem o que incomoda.
Na moda da mídia, a notícia.
Nos centros, nas bordas, na roda,
Ataca a esbórnia política.

Cada bueiro que explode
Muita coisa evidencia.
Quem não vê que se acomode
No que pode a hipocrisia.

Assim sempre, assim sendo,
Toda vez que sigo andando
Estouro um bueiro na rua
Quando me pego pensando.

Poema nº 5 (Top 11 - O Sertão): Lugar Comum

Pra quem não conhece tanto -
Por ser tão longe e distinto -,
Sertão é terra de pranto,
Sertanejo é um faminto.
E pra ilustrar este canto
Posso investir no que sinto
Sobre esta terra de santo,
Lugar comum que eu pinto:

Semi-árido o cenário
De uma palheta singela
Que o solo desdobra vário
Do quadro de uma janela,
Mostrando o pincel precário
Em que a tinta se revela -
No laranja agrário e diário;
No acre, o ocre da tela.

No solo rachado vinga
O mandacaru formado.
Sem flor nem chuva que pinga,
Cresce forte e empoeirado
Com espinhos de seringa
Que apontam pra todo lado -
Vence e teima a caatinga
No que pode neste quadro.

A secura o tempo estica:
A sede da água é sonho.
Rio temporário fica
Na memória em nó medonho.
O roçado, uma coisica
Vazia num chão pidonho.
O leito, a água não bica.
No eito, um jeito tristonho.

Encangado, o sol a pino,
Quente torra o desertão,
Ditando todo o destino
De quem mora no Sertão.
Sobre o cambito fino,
O equilíbrio torna em vão
A força que faz o menino
Pra ficar de pé, então.

Em riba do barraco torto,
Um abutre emburrado
Avista um bezerro morto
Que em esqueleto está moldado.
Descansam num desconforto
Os ossos de seu passado,
Enquanto, de olhar absorto,
Mira o abutre esbugalhado.

Por baixo da telha quente,
Entre as paredes de adobe,
No pavio da vela ardente
A chama sabe que sobe
Só pra levar do doente
A dor que quiçá o afobe,
Quando orando bate o dente -
Que a alma a morte não roube.

Nas brenhas que a fé alcança,
Se coisa ruim ou maleita
Desafiam a esperança,
O sertanejo se ajeita.
É com a fé que ele avança;
Seu altar ele enfeita,
Pondo ali sua confiança
Pra ver se tudo endireita.

Num lampejo em que se lança,
Pra ver se a vida melhora,
Entrega-se em desvairança
O sertanejo que ora.
Enquanto espera a bonança,
Nem olha o mundo lá fora –
Que o mundo é seco e cansa
Praquele que agora chora.

Poema nº 6 (Top 9 - Poema baseado em imagem): Sísifo 

O herói absurdo
Empurra sua alma no mundo,
Rolando deserta de sonho,
Sedenta de algum sentido.

Ao mito sou remetido.

Sabendo-se nada -
Jamais tudo tendo sido -,
Busca a tarefa árdua
Que nunca se torna completa.
No ritmo ilógico e ágil,
Escasso é o tempo da meta.

Remeto o fato ao mito.

Se a alma tem peso de pedra,
Cada passo é infinito.
Toda distância que medra
São ganho e perda em conflito.
A vida dissolve no esforço
E inútil se perde no atrito.
Rolando resolve o esboço
Do paradoxo vazio.

Se cansa o que é difícil,
Se o topo é interdito,
Tentar é um verbo de vício
Em vão no caminho do rito.

Por fim, retorno ao início.
Remeto ao mito – repito.

Leva a alma o herói aflito.
No ímpeto mágico, o suplício:
Traduz-se no destino trágico
De rolar do precipício.

Poema nº 7 (Top 7 - Poema em homenagem ao autor favorito): Danças

“Os grilos são os poetas mortos.”
(Mario Quintana)

Cada palavra sua
É um baú de espantos aberto
Dentro de um só tão repleto
De retentivas da infância.

Cada palavra nua
É apinhada de vento,
Fazendo o tempo dançar
Rodado em contratempo.

Batamos com nossos pés,
Com nossos sapatos floridos,
Cirandas de feiticeiros
Encantados pelo ritmo!

Então, Poeta, dancemos,
Na Rua dos Cataventos,
Que giram lançando andamentos
De abertas lembranças no ar!

Danças, danças, danças...
Suas letras sempre dançam
E se entrelaçam tão mansas
Nas tranças de algum luar.

E pelas esquinas dos sonhos
Acesos em nossos segundos,
Passamos e vemos dançando
Dez mil lampiões rubicundos!

(E enquanto dançamos,
Um grilo, num canto,
Percebe com espanto
O mistério do mundo...)
Poema nº 8 (Top 5 - Soneto): Anel

O anel que tu me deste era frágil -
Destas vitrais estruturas de areia -,
Burilado com cinzel pouco ágil
E em fogo casto que não incendeia.

Desfez-se breve em cacos entre os dedos
Machucando a mão que antes era afago,
Ferindo o brio dos meus pobres medos,
Marcando o peito num terrível estrago.

Contudo, a paixão com o tempo encerra:
Todo princípio merece seu fim.
Melhor a paz em mim que em dois a guerra...

Mesmo assim, indago sem esperança:
Por que me deste então um anel ruim,
Se eu só queria a ti em aliança?

Poema nº 9 (Top 4 - Pai - Uma Homenagem): Acalanto
 
Boa noite.
Boi da cara preta.
E a voz soava grossa
Feito trovão.
E era o abrigo da noite.
E era o hipnótico ingresso.
E era a fronteira dos sonhos
Nos borbotões de minha infância.

Canto o acalanto do tempo.
A boca secreta do espelho
Verte o alento da memória:
Não sei de que sonho saímos...
De que trecho da história?
Ralenta a cantiga nossa
Como escansão mastigada...

Seu cabelo tingiu-se de preto
Como a noite e a cara do boi.
Brincamos de pai-e-filho.
A panela de pressão
Chia cheia de domingos.
Ainda estamos antigos.
O ainda não sei foi...

Subo em suas costas
De cavalo de brinquedo
E léguas andamos juntos
Cruzando frios relevos,
Sem ter medo das caretas
Das montanhas de Friburgo.
O galope soa forte,
Grosso feito trovão.
Ralento a nossa cantiga.
Você segura minha mão.

E antes que seu filho durma –
E que você durma também –
Lá vamos nós seguir outros sonhos,
Cantando pra bem mais além...

Poema nº 10 (Top 3 - "Ai, o amor... Hum, o sexo!"): Soma (Poema de amor)


Nosso amor tem brilho –
Deste que trazem os grandes astros.
Amo, pois que, ao senti-lo,
Quando a dois, somente cintilo.
E me basto.

E pensar: amar a um, sendo dois.
Ou então: amar a dois, sendo um.
Que conto fator em comum
Em evidência, agora e depois...

Que somos sonho, soma, alma,
Amálgama, riso, rizoma,
Redoma, gozo e calma –
Carinho ímpar de um par.

Quando um abraço nos toma,
Em laços e em nós nos afaga,
O encontro é o que interessa
Pra téssera complementar.

Fico surpreso enquanto
Preso em seu braço,
Pois não tem preço
O seu abraço que eu prezo.
Um meio, um quarto, um terço,
Inteiro parece que rezo
Quando em você me reparto.

Seu sussurro, trinta decibéis...
Férteis de poesia.
No escuro oram-me fiéis
E o poço do ouvido arrepia –
Se eu criasse amor nos poros,
Suaria.

E se o suor na pele é sal
E sede continua tendo,
Se brasa quando junta ao fogo,
Quente continua sendo,
Se água pinga no rio
E o corixo ainda escorrendo,
Eu em você somos brilho,
Corisco nos astros crescendo...

Eu durmo sob o dossel
De seus cachos negros,
Querendo suas noites a mais.
Do céu tudo é segredo:
Gigantes siderais espelhos,
Testemunhas de sinais.
Que somos soma, carne e unha,
Pêlo, apelo, aperto e paz...

Poema nº 11 (Top 3 - "Ai, o amor... Hum, o sexo!"): Jogos de Guerra (Poema erótico)



Quando seu corpo no meu,
Descubro um campo de batalha,
Onde por fim caímos mortos
Na tática tátil dos corpos.

Ao me despir ao seu dispor,
Tiro à queima roupa.
Combate corpo-a-corpo,
Tudo apalpa e nada poupa.

Sou dado, soldado seu.
Confuso de que lado ataco,
Avanço e recuo a tropa
E trôpego pelejo fraco.

A investida aguarda.
Da acometida me salvo.
Ataque à retaguarda!
Seu corpo nu é alvo...

Entocado em sua trincheira,
Em sua pele estrangeira,
Rastreio sem mapa seus rastros.
Alastro-me dando bandeira,
Hasteio e ali finco o mastro.

Meu exército exercito
Explodindo nossas bombas
De anatômicos cogumelos atômicos.
Exploro seu país indômito
E excito tudo o que fito.

Renda-se na emboscada
Desta minha embocadura -
Que demarco com meus dentes
As áreas que a boca procura.

Mordente em arrepio,
Torno a te definir no sexo -
Que crio contorno convexo
No bojo do seio macio.
Quando amando,
Mordo-o em cheio.
Sei-o antes meio vazio...

E vendo os relevos lanhados
E desvendando sua mata,
Você me revira de lado,
Revida e contra-ataca.

Tomba logo o corpo e sente
A hecatomba em combate -
Que o jogo amoroso da gente
É guerra que acaba em empate.

Poema nº 12 (Grande Final - "Fragmentos da solidão contemporânea"): Caleidoscópio


Este atrito de tempos
onde possuo buscas
e nada se atém...

Estou em cima da hora -
daqui melhor vejo tudo:
– O delírio deste mundo
é parar por um instante.

Líquida modernidade,
escorre fluida entre dedos.

Agarro meu vácuo
e vago vazio -
meu medo.
Inócuo vagueio.

Passeio por tantos;
muitos outros sendo.
Ao que reflito,
a mim me divido:
tonteio de caleidoscópio.

Meu ser se quer solidez,
mas tudo me corta
e devoro tudo -
Identidade antropófaga:
me centrifugo.

Há tanta coisa no mundo
que não mais me escolho.

Sabendo-me solidão,
solidariamente me dôo -
desejo de cingir laços
e outros vestígios frouxos...

Há tanto mundo nas coisas
que, por hora, me encolho.

Escorro.

Minha aura imanente,
porosa me deixa passar.
Fragmento minha essência:
Quando só, nunca aconchego.

Em companhia da ausência
rumino meu desassossego.

Poema nº 13 (Grande Final - "A Poesia"): Assalto


A poesia assalta o muro como a hera,
rizoma no que sobe lenta,
furando em esforço sutil
o silêncio que ninguém escuta.

A poesia assalta a lua
pendurada na linha
que divide o céu do mar.
Tem tudo nas mãos -
na tênue divisão do mundo -,
quando as plêiades
e as anêmonas
dançam juntas
procurando devorá-la.

A poesia assalta bancos de praças
e foge pelas ruelas de sereno e frio,
assalta as massas, esquinas de rios,
desertos, delírios, desejos
e as flores de um canteiro.
A poesia se tenta em arrastão,
lenta assalta os prédios altos.
Por dez mil janelas cinzas,
adentra o espaço entre frestas
e presta invade quartos.

A poesia assalta o poeta
pela alma, pela calma, pela cama -
refém na hora do sono -,
cavando fundo o estado alfa.

A poesia assalta a folha em branco
e por descuido não vê
a armadilha surpresa:

O poeta se põe a escrever.
A poesia, por fim,
é presa.




2 comentários:

LuCais disse...

O choque entre muitos tempos. O passado que o presente arrasta e modifica, apaga, ilumina. Gosto muito desse poema do León!

Kél_Colacique disse...

Lindas palavras!!!
Adorei seus poemas =]
Parabéns e muito sucesso!