sábado, 21 de maio de 2011

Percepções novas


Tenho uma caderneta onde anoto meus pensamentos, ideias, músicas e poesias. São frases boas para se começar um texto, são frases engraçadas, são músicas que parecem poesias, são confissões não confessas e registros de coisas que eu não gosto também. Não ando lendo livros por prazer, a leitura de obrigação tem me tomado esse tempo.

Estou gostando da minha caderneta, sabe? Ela é extremamente sincera e tem um formato que se adapta ao lugar e ao momento. É como se eu fotografasse as cenas para montar um álbum mental depois. Algumas notas parecem fotos de Polaroid, é verdade, perdem o sentido quando fora do contexto e acabam por sumir. Mas a maioria delas não corre esse risco, uma vez catalogadas, abandonam o plano do pensamento e ganham vida no papel.

Os livros na estante já não estão respondendo à minha necessidade imediata de palavras, estão chatos. Minha mesa também está chata, com uma caneca cheia de lápis e canetas, um bloco de rascunho e um vaso de flores artificiais. Artifícios. Prefiro minha caderneta, companheira de minhas andanças, testemunha ocular de um mundo belíssimamente desconcertante. Ela dá um ar solto às minhas palavras, sensação de liberdade, de espaço. É uma caderneta quatro quartos, sala ampla e varanda de frente para o mar.

O tempo já não me respeita. Esfria meu café, transforma em antigos meus cds favoritos, dá um tom prateado aos meus cabelos e faz riscos permanentes em meus traços. Faz algumas anotações parecerem bobas e fora de moda. Ele só sabe andar para frente, não importa o quão Peter Pan você se julgue ser. Ele segue tiquetaqueando, dono de si, dono de mim. Ele não sabe esperar. Desconhece a Terra do Nunca.

Hoje estou experimentando a sensação do primeiro dia da minha nova idade. 30 anos e de novo o tempo mostra quem manda. Claro que minha caderneta está cheia de novos rabiscos, broncas e alegrias; saldo positivo com certeza. Nos últimos dias conheci gente nova e gostei. Conheci melhor pessoas que eu pensava conhecer e me decepcionei. E assim vou fazendo meus rascunhos, minhas anotações e percepções do mundo que me cerca. Preciso de um chocolate quente para enfrentar o frio e da minha caderneta para enfrentar o mundo como eu vejo.

No fundo tenho orgulho da minha mesa antipática, dos objetos chatos e do modo como o tempo tem me tratado. Eles me cobram muito, mas me fazem companhia também, não posso negar. Também tenho um baú, que me olha toda noite, desconfiado, pedindo para ser aberto; mas revirar baús já é assunto para outro post...

3 comentários:

Rê Badin disse...

Nem sei dizer do que gostei mais... Provávelmente porquê gostei de TUDO!

Lohan Lage Pignone disse...

Muito bom, Camila. A imagem muito bem escolhida, assim como cada palavra, retirada de sua caderneta... Sua caderneta da vida.

Parabéns pelos seus 30, pelo seu texto, e pelas suas percepções geram ótimos textos.

Anônimo disse...

Prima

Não sabia que o blog era seu, sempre li e nunca reparei! Parabéns pelo blog! Beijão
Mayara