domingo, 28 de agosto de 2011

Comentários e notas da Grande Final - 1º Parte


COSTURA



O VELHO... (FINALISTA)



a poesia me alimenta

pinga lenta 
no peito frouxo
ou na unha mínima do planeta...

PARACAUAM...
                                                                   
a poesia acrescenta

gota por gota
o azedo do mosto
a folha que falta na vinha do gosto.

BAMBINA...

a poesia sustenta
os pilares do tempo
guardando dias em versos
resistindo a pó e vento

BERNARDO CABRAL...
.
poesia do lado de dentro
ou farol lá fora
grito da alma aos  ouvidos moucos
faz da realidade matéria estranha:
não acompanha, desanda!

CERVAN...

 poesia transforma
ignora paradigmas e normas
traz o farol pra dentro
e faz o sol congelar o vento

SEMPREPOETA...

Poesia amolda os homens
com mãos de escultora
e acalenta as crianças
com voz de anjo.

J. J. WRIGHT...

palavras trôpegas
versos na corda-bamba
estrofes por um fio
[poema torto
poesia que corta]

IVANÚCIA LOPES...

Poesia é palavra pinçada
Na dor e no contentamento.
É a leveza dos balões coloridos
E da menina de vestido ao vento

R.,...

É um vento que sopra felicidade
no rosto já marcado de tristezas.
É o cair da tarde  e o descanso
para pés já cansados de caminhar.


ZÉ DAS LAVOURAS...

Poesia é o jeito mais fácil
de trucidar maus sentimentos.
Um caminho curto e ágil
para acabar com sofrimentos.


PRÍNCIPE DESAVISADO...

Noves fora quero deixar o papel
parto porta afora grito lento fico
no mesmo lugar: sou escravo sem grilhões
destas solidões acompanhado por ti, leitor!

ALAN DE LONGE... 

Portanto, cozo meus poemas

feito um aríete, um bate-estacas


sem nenhuma intenção de leveza...
um tapa na cara da vida vil!

LÉON BLOBA (FINALISTA)

Mas tapa na cara, levo eu,
Que fico a definir o indefinível...
E costurando imagens mil
No que é "duro", "delicadeza",
“Isso”, “aquilo”, “tal beleza”,
Furo o dedo com a ponta da agulha
E sinto a poesia de minhas tontas letras.



EIS O ÚLTIMO POEMA S/A DO I CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A: "COSTURA".
OBRIGADO A TODOS OS POETAS QUE ACEITARAM PARTICIPAR DESTE EVENTO, DESSA FINAL TÃO ESPECIAL!

O VELHO E LÉON BLOBA: OS FINALISTAS! O VELHO INAUGUROU O POEMA, LÉON BLOBA ENCERROU, DANDO UM TÍTULO. 
QUEM SERÁ O GRANDE CAMPEÃO?
AGUENTA CORAÇÃO!

ENQUANTO ISSO NÃO SAI O RESULTADO...

ELE FOI O DESTAQUE DOS COMENTÁRIOS,
SURPREENDEU COM SUAS OPINIÕES CERTEIRAS E OUSADAS,
MUITO ELOGIADO, MUITO CRITICADO
O SER MAIS 'OPINANTE' E POLÊMICO DO I CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A,
ELE:
F.N.V

SOLTA O VERBO, F.N.V!

Cumprimentos a todos. Foi um prazer ter sido convidado pelo organizador Lohan para registrar meus comentários no próprio espaço da postagem. Vocês podem falar que eu já desejava isso desde o princípio. Mas aí é que vocês se enganam. Eu tenho gabarito para ser jurado em qualquer certame, mas não tinha pretensão nenhuma de participar deste. O corpo de jurados definido pelos organizadores desempenhou um trabalho notável.
Os finalistas Léon Bloba e O Velho não precisam ser mais avaliados. A partir de agora eles precisam se basear em tudo que aprenderam neste certame e tornarem-se autocríticos. Mas, para não perder o costume justo agora, e não decepcionar meus fiéis leitores, eu desfiarei minha opinião.
Em Caleidoscópio e Assalto, Léon Bloba trouxe a sua verdadeira face. O poeta mais regular do certame, Léon Bloba arriscou pouco – por isso o regular – e manteve um bom nível. Mesmo tendo saído pouco do armário, Léon, você apresenta uma poética de qualidade, firme. Não condiz com sua idade a sua desenvoltura. Mas isso também não diz absolutamente nada. Grandes poetas são ótimos desde sempre, vide Álvares de Azevedo, Manuel Bandeira, etc. Mozart fez sua primeira composição aos cinco anos. Você, Léon Bloba, tem muito chão pela frente.
O Velho também, por que não? O rei das intertextualidades deste certame; o melhor neste quesito, eu diria. Em “me oriente” e “tempos modernos” você comprova essa sua capacidade. A poesia te orientou e te trouxe até aqui. Só tome cuidado para não pecar com o excesso de folga quando não se deve fazer isso. Final é final. Por mais relaxado que você esteja, final não é rodízio de pizza. Você está enfrentando o Bloba e cita o nome do dito-cujo em seu poema. Sem diplomacias agora, por favor.
Esse papo clichê de que todos são vencedores é o papo mais furado que eu conheço. Odeio isso, por sinal. Li isso na entrevista de vocês e senti essa diplomacia em seu poema também. Eu amo competição e por isso exijo que esta competição seja digna. Tenho que salientar uma coisa: amo competição de qualidade e não dois homens seminus se matando dentro de um ring como naquele UFC maldito. Poesia proporciona competição de qualidade, portanto, façam jus a isso.
Ninguém chega a uma final por chegar. Foi um certame acirrado, reconheço isso. Apostar em um de vocês? Vou apostar, por que não? Não fico em cima do muro nem para fugir de cão bravo. Aposto no Léon Bloba. O poeta jovem que foi mais regular que O Velho e que nessa final levou a proposta mais a sério. O Velho tem uma experiência maior com o jogo poético, suponho que já seja um autor consolidado, inclusive. Não que isso seja fator que desmereça sua trajetória.
O Poema S/A me suscitou uma idéia: se for possível, os dois poetas finalistas poderiam pactuar uma obra. Criem juntos um livro. O novo e o velho, uma fórmula que poderá dar certo.
Agradeço aos organizadores por terem permitido este jurado extra-oficial no certame. Parabéns a todos.
Boa sorte aos poetas e que vença o melhor.
Cordialmente,
F.N.V
VENCEDOR DA ENQUETE-BÔNUS:
Oficialmente: o poeta vencedor da Enquete-Bônus foi Léon Bloba. Léon Bloba faturou 5 pontos de vantagem sobre O Velho. Esta pontuação será somada a dos jurados. Será que O Velho consegue reverter esta vantagem? 
POETA VENCEDOR DO BOLÃO DA GRANDE FINAL:
Viemos registrar, oficialmente, que o poeta vencedor do Bolão realizado ontem foi: PAUL CELAN.
Paul Celan apostou em Léon Bloba, com 62 %. Léon Bloba totalizou 118 votos, equivalente a 53%.
Paul Celan foi o poeta que mais se aproximou da marca de Léon Bloba. Parabéns, Paul Celan! Você receberá o livro "Os cem melhores poemas do século" em breve. Aguarde!
APRESENTAÇÃO DOS JURADOS:
Jurados oficiais: Ângelo Farias, Ludmila Maurer e Nilto Maciel
Jurados convidados (desta primeira parte): Angela Gomes, Jorge Tufic e Antonio Lisboa 
Serão dez jurados, no total, desta Finalíssima. Aguardem a segunda parte, com o resultado final e muitas surpresas! 

COMENTÁRIO DO JURADO NILTO MACIEL SOBRE OS POETAS:

León Bloba, por ser muito jovem, tem muito o que aprender. Entretanto, a sua dedicação com as artes cênicas já o conduz a ler mais. Precisa se livrar de frases como "balança ela louca" (cacofonia). Precisa se livrar de cacoetes, afirmações ("o velho tem a experiência"; "sertanejo é um faminto"), rimas fáceis. Tem fôlego e, por isso, poderá se exercitar muito mais. Escrever até se cansar, riscar, rasgar, deletar, apagar, refazer. Não lhe faltam ritmo e cadência. Isto é bom. Se tem potencial? Tem, sim. E muito. Se evoluiu? Certamente sim, embora não se possa medir isso em poucos dias. Sobre O Velho (que ainda é jovem, nascido em 60) resta pouco a dizer. Como León, ainda está cheio de defeitos: uso exagerado do lugar comum (em poesia não deve haver isso), assim como da linguagem coloquial, própria da prosa. Também tem muito fôlego e poderá elaborar bons poemas. Mas precisa, como León, se livrar de alguns modelos. Se possível, de todos, e seguir seu próprio caminho, costurar sua própria roupa. Poderá evoluir, sim. Agora a resposta à pergunta final (se algum poeta me contradisse, me surpreendendo na competição): nenhum dos poetas me surpreendeu. Eu esperava isto mesmo deles. Quem  se submete a concursos é porque não tem ainda confiança em si mesmo. Quer o aval de outros. Nenhum deles me chamou a atenção. São todos muito jovens (mesmo os mais velhos), estão na fase de ler e escrever muito e só precisam ser mais pacientes consigo mesmo. Infelizmente, não posso escrever mais do que isto.
Desculpe a rabugice e a pressa também. Sucesso para todos. Um abraço amigo.




ENTREVISTA COM ANGELA GOMES

Angela Gomes nasceu e mora em Curitiba. É formada em Musicoterapia, pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP); Especialista em Fundamentos do Ensino da Arte (FAP); Mestranda do PPG Antropologia Social/ Arqueologia (UFPR). Escreveu a peça infantil “A bruxa louca da cabeça oca”, apresentada do mini-auditório do Teatro Guaíra (1986); com o poema “Mariposa” participou da “Primeira Mostra de Haicais de Curitiba”; poema “Labirinto” – Menção Honrosa no Concurso Helena Kolody (2003); autoria e récitas do “Cd Cádmio, poesia de transição”, com acompanhamento musical de Ricardo Pozzo e participação de Tullio Stefano (2006). Participou das antologias: Poetas de Curitiba (2003); Pó&teias (2006); E-zine Bar do Escritor (2007); Bar do Escritor, Anarquia Brasileira de Letras (2009); Pó&teias, Poética (2010). Tem poemas nos blogs: Pó&teias (poeteias.blogspot.com); Bar do Escritor (WWW.bardoescritor.net/blog) e Aedoscuritibanos ( aedoscuritibanos.blogspot.com).


Lohan: Olá, Ângela! É um prazer recebê-la nesta final, no Autores S/A. Ângela, como você se descobriu escritora? Quais foram (e são) suas influências literárias?

Ângela: Ensaio escritos desde a pré-adolescência. Em torno dos 15, 16 anos passei a freqüentar, na minha cidade, Curitiba, um espaço chamado “Feira do Poeta”, onde imprimiam poemas e faziam varais de poesia aos domingos, durante a Feira do Largo da Ordem. Às vezes havia palco para récitas, outras, rodas de poesia. Conheci muitos poetas nesse espaço. Muito enriqueceu minha vida. Promovido pela Fundação Cultural de Curitiba e a Feira do Poeta, participei da “Primeira Mostra de Haicais de Curitiba” em 1988, onde dezessete haicais foram selecionados e, entre eles, um meu. Foi uma sensação muito boa. Mas, passei a me reconhecer como poeta, verdadeiramente, após uma menção honrosa em um “Concurso Helena Kolody” em 2003. Eu sempre me vi poeta, mas, ser chamado poeta, pareceu ter novo significado. Não creio que sejam necessários títulos e louros para isso, pois, Poeta é um estado de espírito; não se é melhor ou pior por isso. Mas, esses olhares externos me fizeram olhar mais para dentro de mim e, tentar encontrar mais poesia. Minha primeira influência foi “A manhã é uma criança” de Joan Walsh Anglund, que ganhei com 9 anos de uma amiga dos meus pais. Depois, vieram Casimiro de Abreu, Cecília Meireles, Castro Alves, Olavo Bilac, Cruz e Sousa e, especialmente, Fernando Pessoa. Mas, minha grande paixão é Hermann Hesse.

Lohan: Qual mensagem você deixa aos poetas dessa Grande Final? Qual caminho (caso haja) um poeta deve trilhar para ter sucesso nessa carreira?

Ângela: Desejo muito sucesso a todos! Coragem para enfrentar o mundo e seus desafios! Desejo que ao olharem para dentro de si, se percebam pessoas muitíssimo especiais, pois, ser poeta é ter a sensibilidade à flor da alma. O caminho a seguir, se existe um, é o de encontrar-se com seus iguais. Os amigos, embora alguns a gente nem venha a conhecer pessoalmente, são as nossas referências. De alguma maneira os percebemos como iguais e, caminhar junto é sempre melhor que isolar-se, penso eu. E, ler e escrever para se inspirar e se exercitar.
Lohan: Pra terminar, Ângela, o que é poesia?

Ângela: Para mim a Poesia está em todas as coisas do mundo, do sagrado ao profano. Das coisas límpidas às indigestas, intragáveis e lúgubres. Sendo, a tradução desses estados de coisas o grande desafio dos poetas, que é o de resgatar a beleza que possa parecer estanque, singular ou intangível Mesmo não havendo essa pretensão, por certo, sua tradução se tornará bela, pois, ousou adentrar e descrever mundos; universos gigantescos ou ínfimos.
A prática da poesia, eu vejo como uma catarse, uma transmutação do estado das coisas, pelo engenho de um poeta, através do desenho das palavras.



ENTREVISTA COM JORGE TUFIC

Jorge Tufic, (Sena Madureira, Acre, 13 de agosto de 1930), é um poeta e jornalista brasileiro. Tufic iniciou sua educação em sua cidade de origem, transferindo-se posteriormente para Manaus, onde concluiu os estudos. Em 1976, foi agraciado com o diploma "O poeta do ano", prêmio concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, em reconhecimento à sua vasta e intensa atividade literária. Tem seu nome inserido em várias antologias, entre as quais destacam-se "A Nova Poesia Brasileira", organizada em Portugal por Alberto da Costa e Silva, e "A novíssima Poesia Brasileira", que Walmir Ayala lançou na Livraria São José, no Rio de Janeiro, em 1965. É sócio-fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, com sede em Tabatinga, no estado do Amazonas. Fez várias conferências literárias e é membro efetivo de algumas entidades culturais, tais como: Clube da Madrugada, Academia Amazonense de Letras, União Brasileira de Escritores (Seção do Amazonas) e Conselho Estadual de Cultura. Pertenceu à equipe da página artística do Clube da Madrugada, "O Jornal" e do "Jornal da Cultura", da Fundação Cultura do Amazonas. Colabora em vários órgãos de imprensa, com especialidade no Suplemento Literário de Minas Gerais. Jorge Tufic é o autor da letra do Hino do Amazonas, contemplado que foi com o primeiro lugar em concurso nacional promovido pelo governo daquele estado.


Lohan: Olá, Jorge! É um prazer imenso recebê-la nesta final, no Autores S/A. Jorge, você já foi agraciado com o prêmio de poeta do ano, em 1976; está na antologia "A Nova poesia brasileira" e na "Novíssima poesia brasileira". Sem dúvida, você figura entre os grandes poetas do nosso país. Como tudo isso começou? Desde quando a poesia visita sua vida, e como essa 'relação' se desenvolveu; o processo do fazer poético, os prêmios conquistados...? 

Jorge Tufic: Ora, como diz o grande Fernando Pessoa em sua Mensagem, ¨todo início é involuntário¨ Acrescido da falta de estímulo ao bisonho neófito que fui, este início pode até ser o próprio final de uma vocação promissora. O fato é que, depois de amargar a incineração de meus primeiros manuscritos, retornei de mala e bagagem à lojinha de miudezas de meu velho pai, disposto a ser apenas um daqueles pobres comerciantes da periferia do Mercado ¨Adolpho Lisbvoa¨, em Manaus. Tempos corridos, surpreende-me um Fiscal da Prefeitura de nome Manoel Lacerda, com a oferta de um jornal literário do Rio de Janeiro, Letras & Artes, e ali estava um soneto de Cecília Meireles na última página. Fiquei maravilhado porque o mesmo já não tinha rimas, só métrica. Falei isso ao Manoel Lacerda, ao que ele, estendendo-me uma Parker
de ouro, falou: - Toma, Jorge, você também pode fazer um soneto, e ainda
assim, sem uma única rima, deve ser moleza. Para não ir mais longe, Lohan, eu fiz o soneto, com alguns pés quebrados, mas fiz. Levou-me esse herói desta saga à ¨Folha do Povo¨, em cuja página foi divulgado num sábado para mim festivo e glorioso. Numa visita que resolvi fazer ao jornal, convidou-me o Secretário Adaucto Rocha, um bom paraibano, a ficar como repórter e aprendiz de redação. Assim também o fiz. Quando saí desse órgão de Fracisco Rezende, que foi empastelado, fundei meu próprio jornal, ¨O Tempo¨, de pouca duração mas forte no combate político. E a Poesia, como ficou? Bem, deu-se minha estréia com ¨Varanda de Pássaros¨, quase junto com Ferreira Gullar. Antonio Olinto brindou essa estréia em sua coluna de ¨O Globo¨, Porta de Livraria. Daqui em diante começa uma história maior, quando percorri o Sul e o extremo Sul fazendo parte de uma caravana de poetas, a qual, depois, ajudara na fundação do Clube da Madrugada.

Lohan: Jorge, muitas pessoas não sabem, mas você é o autor do hino do Amazonas. Como se deu esse processo de criação? Houve algum concurso, havia alguma regra estabelecida? E se você tivesse a oportunidade de criar uma estrofe para um suposto novo hino brasileiro, um 'hino contemporâneo', por assim dizer, como seria essa estrofe?

Jorge Tufic: O Concurso para escolha da letra do Hino do Amazonas foi lançado em 1980. Foi um Concurso Nacional. Coube a mim o primeiro lugar de acordo com o julgamento do Conselho Estadual de Cultura. Não havia tempo para concurso da música, já que o lançamento desse símbolo do estado estava marcado para 5 de setembro. Maestro Cláudio Santono foi convidado pelo Governador José Lindoso,
e fez a música. Um recorde. Não tenho idéia de como eu faria para mudar a letra do Hino Nacional. Acho que ele já mudou o bastante na execução musical, ficou melhor.

Lohan: Qual mensagem você deixa aos poetas dessa Grande Final? Qual caminho (caso haja) um poeta deve trilhar para ter sucesso nessa carreira?

Jorge Tufic: Aos jovens que se encantaram com a palavra poética, só tenho a dizer que leiam mais e escrevam menos.

Lohan: Pra terminar, Jorge, o que é poesia?

Jorge Tufic: Definir poesia também coube a mim fazê-lo no livro Curso de Arte Poética¨, prêmio nacional de ensaio da Academia Mineira de Letras.

ANTONIO LISBOA CARVALHO DE MIRANDA


Antônio Lisboa Carvalho de Miranda é maranhense nascido em 5 de agosto de 1940. Membro da Academia de Letras do Distrito Federal, foi colaborador de revistas e suplementos literários como o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e também o La Nación (Buenos Aires, Argentina) e Imagen (Caracas, Venezuela). Professor e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, Brasil, ministra aulas e cursos por todo o Brasil e países ibero-americanos. Também é consultor em planejamento e arquitetura de Bibliotecas e Centros de Documentação. Exerce atualmente a função de Diretor (interino) da Biblioteca Nacional de Brasilia, desde fevereiro de 2007. Doutor em Ciência da Comunicação (Universidade de São Paulo, 1987), fez mestrado em Biblioteconomia na Loughborough University of Technology, LUT, Inglaterra, 1975. Sua formação em Bibliotecologia é da Universidad Central de Venezuela, UCV, Venezuela, 1970. Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília desde março de 2007.


COMENTÁRIOS E NOTAS DA GRANDE FINAL (PRIMEIRA PARTE):

Pseudônimo: Léon Bloba
Poema: Caleidoscópio

Ângelo Farias: Com belos momentos, parece corromper algumas idéias e/ou imagens pelo jogo de palavras.  Tem certas dificuldades com instantes filosóficos da poesia, ficando um pouco obscuro ao evitar clichês.

NOTA: 8

Ludmila Maurer:Vamos a uma especificidade do texto literário em relação a outros tipos de leitura: em A fome de ler, de Ronald Baker, a leitura é a reconstrução de uma obra nova pelo leitor, uma outra experiência caracterizada pelo confronto entre as imposições do texto e a predisposição do leitor. Mais forte e determinante estas imposições, mais ‘’funcional’’ é a obra e menos margem ela deixa à iniciativa do leitor. Ao passo que maior a latitude deixada ao leitor para exercer sua predisposição, mais literária é a obra. Isto posto, caríssimos poetas, creio esclarecer um mínimo suficiente aquele ‘indizível’ que cumpre ao produtor do texto literário, seja qual for o seu gênero (prosa, poesia, teatro).
Caleidoscópio tem a força da informação por meio de dimensões outras que não as da realidade imediata por sua plurissignificação em:

Estou em cima da hora -/daqui melhor vejo tudo:/
– O delírio deste mundo/é parar por um instante.
Há tanto mundo nas coisas/que, por hora, me encolho.
 Minha aura imanente,/porosa me deixa passar./Fragmento minha essência:/Quando só, nunca aconchego.
Em companhia da ausência/rumino meu desassossego.

O texto cresceu na releitura e as metáforas e situações me construíram um personagem que assumiu concretude a partir da minha reação com os sentidos, com a outra dimensão da realidade que é o imaginário. E o título está em perfeita harmonia com o enredo. Apenas peca pelo excesso, ou seja, o poeta ‘quer dizer’, em vez de não dizer (indizível).
NOTA: 9

Nilto Maciel: Apesar de alguns tropeços (como no início do poema: “onde possuo buscas”), os versos são bem urdidos (como “Passeio por tantos; muitos outros sendo”). O título “Caleidoscópio” está bem apropriado, condensando tudo, o tema e o próprio poema. O poeta está bem, amadureceu (em tão pouco tempo?), estando apto (estará? Precisamos ler outros e outros poemas novos dele) para o mundo.

NOTA: 9

Antonio Lisboa: Excelente domínio do discurso poético, sem ser impressionista nem exercitar o lirismo já esgotado da diluição. O poeta começa com muita força e termina de forma extremamente expressiva, sem ser óbvia: “companhia da ausência” é um oximoro de expressão poética rica e insinuante, e “rumino meu desassossego” é um fecho que abre mais do cerra o poema... Deixa ao leitoro conteúdo que não é expresso, mas é sentido e pressentido pelo autor e seu leitor, numa complementariedade sem limites. O poeta tem domínio do verso, substitui a rima fácil pelos acentos tonais que vão dando ritmo e sentido:
Sabendo-me solidão,
solidariamente me dôo–“.
E repete:
“Agarro meu vácuo
e vago vazio –“
Sem dúvida, um poema digno de ser premiado.

NOTA: 9,5

Angela Gomes: O poeta conseguiu movimentar em seu poema “Caleidoscópio”, através do desenho das palavras, os “Fragmentos da solidão contemporânea”, tema solicitado, com muita destreza, harmonia, profundidade de ideia e de sentimentos. Muita engenhosidade nessa construção.

NOTA: 10

Jorge Tufic: O autor me parece apto a não deixar que o tema, o prosaico, absorva 
o espaço da metáfora.
NOTA: 5


Pseudônimo: O Velho
Poema: tempos modernos

Ângelo Farias: Imagens simples bem escolhidas e combinadas, com poder de avivamento.  Interessantes atualizações da imagem do homem solitário.  Apenas algumas incoerências e desdobramentos a pedir rápida atenção.

NOTA: 8,5

Ludmila Maurer: Retrato da hipermodernidade no ‘agonizante’ homem que, por ser ‘pretérito’ não se encaixa, e vive em caixas (prédio cercado de grades) comandado por seu ‘controle’ – externo – remoto. Pausa para a ambiguidade desta última: controle longínquo, que está para além deste homem, que de ‘h.d. vazio’, paradoxalmente vive no ‘Residencial da Felicidade’.
Velho, ainda que mais direta a sua linguagem, não há dúvida sobre a remissão ao imaginário e, nessa fusão de contrários, de correspondência entre o abstrato e o concreto, houve a imagem poética, a expressão do sentimento metafísico de dor.
Apenas me foi brusca a passagem, na 1ª estrofe, da imagem do sol para a ideia do controle remoto.
 






NOTA: 9

Nilto Maciel: Poema mais enxuto ou menos metafórico do que o de Bloba, de linguagem mais “moderna”, mais próxima de uma poesia dita marginal (anos 70) ou de vanguarda (Semana de 22). A inclusão do computador como matéria ou objeto do poema leva a brincadeiras (como a citação do nome do poeta Bloba). O poeta demonstra estar à vontade para escrever, sem medos ou preconceitos.

NOTA: 7

Antonio Lisboa: Um bom poema, engenhoso, com domínio do discurso embora faça referências a questões casuais, contemporâneas, reconhecíveis.  Verso como “Seu destino na mão” resulta figurativa, lugar-comum, mas funciona bem no discurso eleito pelo poeta.  O último verso“Residencial da Felicidade” tem um tom irônico, bem apropriado como desfecho.

NOTA: 8,5

Angela Gomes: Os primeiros versos são devastadores: “Um sol ardendo no seu peito/ Abrindo em corte a solidão”. Versos muitíssimo fortes, pedindo muito da seqüência. A cadência segue perfazendo a angustia da solidão, mas, o fechamento pareceu carecer de uma força tão fremente como a do início. “mora no prédio cercado de grades:” poderia ter fechado o poema, ao meu ver.

NOTA: 9,5

Jorge Tufic: O poeta consegue avançar em direção daquilo que Carlos Drummond de Andrade chamava de ¨sentimento do tempo¨, mas ainda insiste na colagem de ¨lugares comuns¨ de certo modo destoantes de seu módulo em busca do novo, do hoje, enfim, do contemporâneo. 

NOTA: 8



Pseudônimo: Léon Bloba
Poema: Assalto

Ângelo Farias: A segunda metade do texto é onde o poeta se encontra mais forte.  Antes, a vontade de dizer se realiza com ruídos, algumas palavras têm um lugar estranho, interferindo nas imagens e no jogo.  “Por dez mil janelas cinzas” excede.

NOTA: 7,5

Ludmila Maurer: É perceptível a base sólida – poesia - que autoriza o assalto; ao expandir seus ramos, espalha seu som, é captada e legitimada pela armadilha sobre-humana: é ‘presa’ na tessitura preta e branca. A ‘hera poética’ alcançou a nota 8,5. E Léon alcançou em mim o que eu mesma nem esperava: a surpresa. Sua criação alegórica, fruto de seu amadurecimento neste concurso, me convidou à realidade modelada pelo sonho. Obrigada!
 


NOTA: 8,5


Nilto Maciel: Bom final, arremate. Ao ser escrita, a poesia é presa. Veja-se que o poeta repete “A poesia assalta” (o que não é um bom verso), para ser presa. E o título é “Assalto”.

NOTA: 8


Antonio Lisboa: Um bom poema, prosaico, numa linguagem bem costurada mas sem surpresas, por ser lógico e consequente. Ou seja, evoca imagens e situações, não corriqueiras, ricas como metáforas mas sempre de forma linear, discursiva.  “A poesia assalta o poeta / pela alma, pela calma/pela cama” está bem mas resulta um pouco corriqueiro.Embora siga de forma menos trivial: “refém na hora do sono -.”
O final é bem urdido, mas relendo, vê-se com certa obviedade:
O poeta se põe a escrever. / A poesia, por fim, / é presa.”
 Ou sem surpresa. Embora seja bem expresso e corretamente articulado.
 

NOTA: 7,5

Angela Gomes:: Puro delírio, puro assalto nos invadindo a alma.

NOTA: 10

Jorge Tufic: Embora com maiores recursos de imagem, o autor ainda transita à procura de
uma definição do fenômeno Poesia. Contudo, já consegue atingir um nível considerável como
pontos em seu favor nessa tentativa de capturar as sutilezas do poema.

 
NOTA: 9


Pseudônimo: O Velho
Poema: me oriente

Ângelo Farias: Difícil, o tema entorpece um pouco o poeta.  Suas constantes poéticas realizam bem uma primeira parte.  A segunda, com menos âncoras, quer mais tempo para poder fluir.

NOTA: 7

Ludmila Maurer: Metapoema que demonstra a sensibilidade do autor na arte de fazer poesia. Título evocativo ao ritual do autor: mesmo que sem orientação intertextual (se um poeta/que me oriente/parar de escrever), há a soberania da maestria poética (‘musa poesia’). O  Velho brinca aqui entre dizer a não intertextualidade e trazer J.J. Wright em seu texto. Aliás, nesta última rodada, apesar do traço irônico já nos apresentado por você em outras, houve um convite a um Velho bem mais à vontade com a poesia, menos imbricado nas malhas da tessitura, um Velho confiante de sua poesia. Foi muito bom conhecer mais de você. Obrigada.
 
NOTA: 8

Nilto Maciel: Alguns refrões da poesia parnasiana (minha musa), mas alguns achados “oriente” (verbo) “em Tóquio”. Reviram-se armários? Não sei. “Musa constante e caprichosa” me parece também vinda de velhos livros (é bom ler os velhos livros, mas não copiá-los). Isto fica para os copistas. Ou ficava.
 
NOTA: 7


Antonio Lisboa: Um bom poema, sem dúvida. Começa demonstrando que vai dissertar sobre o “poetar”, na intenção do tema proposto pelo Concurso.
“revira-se armários/ do tempo,/ prateleiras da memória” são versos corretos, mas que não acrescentam muito, pois são redundantes.
Os versos seguintes são menos óbvios, ganham um bom ritmo e constroem um sentido mais fractal, de justaposição de imagens e ideias sucessivas:
esqueletos tão secretos / desmontam no colo / de sílabas compulsivas, / palavras impossíveis, / em versos de azulejo / e rimas de porcelana / num comboio de letras / lentas, tontas, lúgubres...” 
O restante do poeta cria um fecho que é bem urdido, mas sem impacto. Até começa com força: “se um poeta / que me oriente / parar de escrever / em Tóquio / e o mundo parar junto”.  Um achado bem criativo e sutil, ao aproximar “me oriente” com “em Tóquio”...  No entanto, os versos finais, perfeitos enquanto discurso, não tem a mesma força pois resultam como “conclusivos”, explicativos, ou justificativos.   “minha musa / constante e caprichosa: a poesia” embora seja correto como corolário de uma ideia, não tem muita força expressiva como poesia. Não é um poema desprezível, nem ruim, nada disso. Só não me parece que possa ser o vencedor de um concurso sobre o tema proposto, que é a da metapoesia, tema da maioria dos grandes poetas, desde sempre. É difícil criar neste terreno tão trilhado, ou superar o que já foi escrito.
 
NOTA: 7

Angela Gomes: Como o movimento do bater das asas de uma borboleta, o poema foi conduzido, trazendo no seu colorido, a magia e o transe pedido pela poesia.

NOTA: 10

Jorge Tufic: Aqui, também, a recorrência ao tema da poesia. No entanto, um brilho diferente deslancha com mais amplitude os indícios de uma descoberta feliz. A saída do ¨impasse¨ para uma navegação pelos mares da palavra consiste, pois, e unicamente, na mudança desse paradigma em autocolocar-se frente ao enigma, e não em decifrá-lo.
 

NOTA: 10


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

TOTAL ATÉ AGORA:

LÉON BLOBA: 50,5 (Por "Caleidoscópio") + 50,5 (Por "Assalto") = 101 + 5 pts.-bonus = 106
O VELHO: 50,5 (Por "tempos modernos") + 49 (Por ''me oriente'') = 99,5 

JÁ JÁ O RESULTADO FINAL! AGUARDEM A SEGUNDA PARTE, O ÚLTIMO POST DO I CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A. NÃO PERCAM! GRANDES JURADOS, VÍDEOS, E O CAMPEÃO!

AUTORES S/A.


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