quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Les Mis: ame-o ou deixe-o


Os Miseráveis não é um filme para todos os públicos. Antes de ir conferi-lo, é bom saber o lhe espera. 1) são 160 minutos de duração – quase três horas. 2) não há absolutamente um diálogo em que os atores não estejam cantando – sim, é cantoria do início ao fim. 3) são dezenas de personagens “miseráveis” – praticamente todos choram em pelo menos um momento do filme, e 4) o diretor é Tom Hooper. Ou seja, dá-lhe ator no canto da tela, dá-lhe câmera no alto, câmera no chão, câmera girando, cortes rápidos, planos abertos, etc. Se a duração, a cantoria, o drama das personagens e os cacoetes do diretor não fizerem muita diferença, tenho uma boa notícia: você terá uma das maiores experiências cinematográficas da sua vida.

“Os Miseráveis” é um daqueles filmes que funcionam com uns, mas não com outros. Acontece, afinal de contas não é todo mundo que está disposto a encarar quase três horas de cantoria e chororô. Ainda mais quando essas três horas de cantoria e chororô são dirigidas por um cineasta que, dizem por aí, manja nada de linguagem cinematográfica. E convenhamos: para o bem ou para o mal, o destaque de “Les Mis” ficou para quem? Tom Hooper, é claro.


Para alguns, ele é o principal problema do filme. Para outros, “Os Miseráveis” não seria tão bom se não fosse por ele. O que eu penso? Bem, acredito que, não fosse Tom Hooper, o filme não teria 1/10 da grandiosidade que vi nos cinemas (duas vezes). E digo isso levando em consideração duas escolhas do diretor que, a meu ver, foram acertadas. A primeira, que talvez seja a maior curiosidade de “Les Mis”, é o fato das canções terem sido gravadas diretamente no set de filmagem. O que significa isso? Significa que, ao contrário dos outros musicais, em que as canções são gravadas e devidamente ajustadas em estúdio, aqui elas fazem parte da performance dos atores. Não há uma preocupação real em deixá-los com o timbre perfeito. A ideia, na verdade, é justamente a oposta. Hooper queria que as famosas canções do musical soassem o mais natural possível. Para isso, os atores gravaram com um ponto no ouvido, pelo qual acompanhavam a canção tocada no piano. Essa iniciativa, até então inédita nos cinemas, ajudou a imprimir a real emoção que as músicas exigem.

A outra decisão tomada por Hooper faz parte do seu leque de cacoetes. Ele colocou a câmera no meio do set, e o percorreu de um lado para o outro, acompanhando a ação, girando a lente e jogando, assim, o espectador para dentro da cena. Isso é essencial para que a experiência cinematográfica seja completa.

Quanto às atuações, muitos elogios. Finalmente – repito: FINALMENTE – alguém deu um papel decente para Hugh Jackman. Até então, ele só havia conseguido trabalhos medíocres, como o de Wolverine, nos quais aparentava ser um belo de um canastrão. Aqui, ele provou que pode ser grande. Jackman canta e atua brilhantemente, assim como Anne Hathaway, que apesar de sua curta participação, merece até dois Oscars pelo papel da pobre e sofrida Fantine. Eles, Samantha Barks e Eddie Redmayne, outro ator que, quando exigido, não brinca em serviço, são o que de melhor o elenco de “Les Mis” tem a oferecer. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de Russell Crowe, que foi equivocadamente escalado para interpretar Javert. Tudo bem que a ideia do diretor era deixar a cantoria dos atores o mais natural possível, mas também não dá para escalar um ator que não sabe cantar porcaria nenhuma. Infelizmente, é o caso de Crowe. Ele não acerta uma única nota e isso, por melhores que sejam as intenções, é uma tortura.

“Os Miseráveis” recebeu oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Recentemente, levou o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia/Musical. É uma obra de grande qualidade técnica, que possui algumas das canções mais famosas da história dos musicais e que, com certeza, vai entrar para o hall do cinema como uma das versões mais emblemáticas que a história de Victor Hugo já recebeu. Baseado na peça – e não na obra do escritor francês -, “Les Mis” é um filme que, quando chega ao final, dá vontade de aplaudir, como se as cortinas fossem abrir novamente para saudarmos o elenco. “Les Mis” tem seus problemas? Sim, tem. Mas, acima de tudo, “Les Mis” arrepia.

4 comentários:

Lohan Lage Pignone disse...

Seja bem-vindo, Vinícius!

Belo texto de estreia! A escolha não poderia ter sido melhor, quanto ao filme. Hoje mesmo comentei com você sobre a minha paciência ter sucumbido, em alguns momentos do filme, devido algumas cenas que, a meu ver, foram exaustivas. Todavia, impossível negar a beleza e a ousada produção desse filme que arrepia, sim. ''I dreamed a dream'', com Anne, cena histórica; assim como a da batalha final.

A princípio, creio que muitas pessoas possam estranhar este musical (até mesmo por não ser um gênero tão difundido, ainda, em âmbito cinematográfico). Mas, recomendo que continuem assistindo, valerá a pena e os... 160 minutos! rs.

Ah, só mais uma coisa: o Russel desafinou pacas mesmo, mas, sei lá, não acho que ele tenha merecido tanta crítica negativa. O papel dele exigia uma postura dura, séria, um tom grave em todos aqueles ''agudos sofridos'' e, por vezes, sofríveis. Acho que ele desempenhou como lhe fora ordenado pelo roteiro, pelo diretor, enfim.

É isso,
Muito bom, Vinícius!
Abração!
Lohan.

Cinthia Kriemler disse...

Eu não gosto de musicais. Mas definitivamente aprecio arte e Victor Hugo é. Assim mesmo. É. Depois de ler esta sua crítica tão justa e bem escrita, fiquei com vontade de me permitir esse muscial. Afinal, o autor é consgrado, o livro é dolorosamente bonito e asasisti ao primeiro filme, que achei muito benfeito. Acho que você me deixou curiosa para ouvir cantorias e chororôs. Obrigada e bela estreia, Vinícius!

Dani Santos disse...

Hum, q delicia essa crítica!!! Ainda não assisti o filme e isso aumentou minha vontade!!! Concordo em tudo com a Cinthia... também não sou lá muito fã de musicais, mas o livro que inspira o filme é incrível, belíssimo...

Camila disse...

Oba! Adoro uma crítica bem feita e bem detalhada, ainda mais quando não assisti ainda. Aumenta a curiosidade e nos dá ares de profundos conhecedores do assunto. Já vou ao cinema cheia de impáfia, como quem está avaliando os pontos x ou y do filme, rsrs... Excelente!