domingo, 1 de abril de 2012

Letícia Simões (Alice Lobo)

Letícia Simões (Alice Lobo) nasceu em Salvador, no auge da crise econômica, da gênese do axé e das últimas lágrimas dos anos oitenta. Sua mãe era professora de Literatura. Na sua memória, os livros eram tantos que não existiam panelas, interruptores ou televisão: havia apenas eles, seus amigos. Os primeiros livros que a impactaram: a garota que caía no buraco e encontrava o mundo (que decepção ao saber que era tudo um sonho…), a indecisão maravilhosa de Cecília Meireles e um muito bonitinho (e muito cruel), sobre um garoto que partia em busca da casa da madrinha. Saía de seu quartinho no alto do morro de Copacabana e no caminho encontrava um pavão que fora privado do direito de pensar - e por isso tinha um filtro de barro na cabeça - e uma menina que conseguia atravessar realidades. Talvez por isso tenha se mudado para o Rio de Janeiro: procurando o menino, a menina e o pavão. Quem sabe. Tem um livro publicado e está terminando o segundo. No ano passado, também dirigiu seu primeiro longa-metragem (obviamente, sobre poesia). Estudou Jornalismo e Cinema, depois tentou seguir História e Filosofia. Hoje, prepara um projeto de Mestrado para Artes Visuais, investigando as linhas tecidas entre cinema e poesia. Em sua concepção, fica clara uma falta de objetividade profissional, por assim dizer. Acha que o mundo precisa dos poetas tanto quanto as palavras necessitam da pausa. Às vezes, nem um (o mundo) nem outro (a palavra) consegue percebê-lo atentamente. Tem o coração maior que o mundo. Só a poesia dá conta desse músculo impossível”.


Pseudônimo: Alice Lobo
Título: rascunho do mar



aos dezesseis anos
fui presa
por ter violentado o mar.

o mar.

a boca, imensa
cuspia farelos de coragem
e maresia

meu medo
joguei aos peixes-surdos do mar

arranquei com os dentes
o silêncio,
inaudível e vermelho,
do mar.

aos vinte e três anos
tingi os frágeis abismos
de areia que separavam
minha cela
do mar.


costurei labirinto para desmanchar
m tons de francisco
o espelho dourado
da água salgada

um sonho passou, deixando fiapos.

agora,
de tempos em tempos,
o mar vem me visitar.







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