ERA UMA VEZ...
uma
estrada, muito, muito longa. Eu, Lírico, carregava uma trouxinha de saberes e
vivências no ombro. Descalço, ralava os pezinhos na terra-papel, fazia machucado
nas lascas das pedras-letrinhas, e até em árvore tive de subir para alcançar o
fruto-verso mais suculento e vistoso. Ai, ai... como foi penosa a jornada nessa
estrada-poesia... Eu, Lírico, esbarrei com outros pelo caminho, que na certa
caçoavam de mim, dizendo se chamar Lírico também. Trocamos alimentos-experiências
e seguimos adiante. Nos vãos da estrada, unimos forças-contextos e criamos
pontes. Atravessar foi dureza. Monstros-jurados vindos de céu e mar balançavam
a ponte pra lá, balançavam a ponte pra cá. Mas nem todos eram malvados. Uns
puíam a corda, outros, ensinavam como amarrar. Alguns Líricos pegaram desvios,
sumiram de vista. Eu, Lírico, não troquei de rumo: mirava o horizonte, agora já
não tão distante. Pousei num castelo de confetes, cheio de balões coloridos e
guloseimas de todo tipo. Outros Líricos festejavam e me convidaram para entrar
na roda. Tomaram minha mão de assalto e me vi numa ciranda-intertextual sem fim
nem começo. No meio, a vida celebrada.
A
poesia!
Cantarolamos
bem assim...
“Ciranda,
cirandinha
Vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar!
Vamos todos cirandar!
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar!
A palavra
que me deste
Era bruta
e não quebrou
E o
suor dos meus miolos
Foi o
que a lapidou!
Por
isso, ó poesia
Nunca
saia desta roda
Sopre
um verso bem bonito
Que
percorra o mundo afora!”
(Lohan
Lage Pignone)
Seis poetas na ciranda
Seis poetas em busca do
horizonte
Que é a linha de chegada
do
III
Concurso de Poesia Autores S/A
Para eles, um imenso...
Que comece a brincadeira!
Brincadeira de criança, como é bom,
como é bom!
Guardo ainda na lembrança
Como é bom, como é bom!
(Grupo Molejo)
NOTA
A
poeta Simone Prado, por motivos de
ordem familiar, precisou deixar o certame. Ela enfrentaria o poeta Herton
Gomes. A poeta Bianca Velloso, então
derrotada por Simone, assumiu a vaga e retornou à disputa. Parabéns pela bela e
premiada trajetória neste certame, Simone!
PREMIAÇÃO DO TERCETO FINAL
O
poeta que vencer pelo placar mais elástico ganhará o livro autografado “Astrobeijo”,
da escritora Ana Beatriz Manier.
TEMA DA SEMIFINAL
Os
quatro poetas que chegarem à semifinal sentirão o gostinho, bem perto, da
grande final. E qual será o desafio para os quatro felizardos de coração na mão?
Abaixo, a temática para a próxima etapa, a qual definirá os dois grandes
finalistas:
“DATAS COMEMORATIVAS”
- As datas comemorativas sempre nos
trazem surpresas, nostalgias; reúne a família, movimenta os comércios, causam
os tão esperados feriados, geram criativas e inesquecíveis propagandas na
televisão; suas festividades e propósitos podem destoar da realidade, ou mesmo
reatar laços desfeitos por longos anos. Aniversário, Carnaval, Páscoa, Dia dos
Namorados, Dia de Tiradentes, 07 de setembro, Dia das Crianças, Finados, Dia da
Consciência Negra, Natal, Ano Novo, enfim... qual dessas datas inspirará o seu
poema?
-
Escreva, em no máximo 01 lauda, um poema sobre uma data comemorativa. No ato do
envio, informe a data comemorativa escolhida e um dos poemas produzidos no
concurso (com exceção do poema da primeira fase), o qual servirá como POEMA
EXTRA, para caso de empate.
-
Prazo para envio: até o dia 23/11/14, domingo, às 20 horas.
E NO DIA 04 DE DEZEMBRO, TEREMOS O NOME DO VENCEDOR (A) DO III
CONCURSO DE POESIA AUTORES S/A!
AGUARDEM!
DA
SÉRIE
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
CINTHIA KRIEMLER
Nossa, são tantas! Minha infância foi
muito feliz. Tanto que até perdoo quando a vida briga comigo, porque acho que
ela tem crédito comigo! (risos). Uma das minhas melhores lembranças é de quando
eu viajava do Rio para o sul de Minas, nas férias, para me encontrar e brincar
com os primos (imagina o que é isso para uma filha única!). Mas tem os banhos
de chuva, o fugir para ir brincar na vizinha do prédio do lado, a praia, o carnaval
infantil, o arco e flecha no América... Não cabe aqui, não!
DE
PEDRO BLOCH (Autor de mais de 100 livros, mais da metade, infanto-juvenis).
"Aninha já estava com
dois anos. Loira, linda. Nunca tinha cortado o cabelo. Era amarelo-ouro e
cacheado. Parecia um anjinho barroco.
Lá um dia, a mãe pega
uma enorme tesoura e resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas
já estavam nos ombros. Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a
cintilante tesoura.
– Mamãe vai cortar a cabelinho da
Aninha.
Aninha olha para a tesoura,
se apavora.
– Não quero, não quero, não quero!!!
– Não dói nada…
– Não quero!, já disse.
E sai correndo. A mãe
sai correndo atrás. Com a tesoura na mão. A muito custo, consegue tirar a filha
que estava debaixo da cama, chorando, temendo o pior. Consola a filha.
Sentam-se na cama. Dá um tempo. A menina para de chorar. Mas não tira o olho da
tesoura.
– Olha, meu amor, a mamãe promete cortar
só dois dedinhos.
Aninha abre as duas
mãos, já submissa, desata o choro, perguntando, olhando para a enorme tesoura e
para a própria mãozinha:
– Quais deles, mãe?"
Se essa rua, se essa rua
Fosse minha...
Eu mandava, eu mandava
Ladrilhar
Com pedrinhas, com pedrinhas
De brilhante
Para o meu,
Para o meu
Amor passar...
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
NATASHA FÉLIX
O quintal da minha avó é um
acolher de lembranças. Mas eu lembro de estar brincando de policia e ladrão em
uma viagem, no escuro. Era um lugar bem grande, muitas crianças. A gente tava
correndo sem parar e eu fiquei pra trás. Escorreguei nos cascalhos do
estacionamento e caí de olhos fechados. Quando me virei, vi o céu todo pintado
de estrelas. Não tinha reparado, tava ocupada demais sendo criança.
Mais
respeito, eu sou criança!
(De
Pedro Bandeira)
Prestem atenção no que eu digo,
pois eu não falo por mal:
os adultos que me perdoem,
mas ser criança é legal!
Vocês já esqueceram, eu sei.
Por isso eu vou lhes lembrar:
pra que ver por cima do muro,
se é mais gostoso escalar?
Pra que perder tempo engordando,
se é mais gostoso brincar?
Pra que fazer cara tão séria,
se é mais gostoso sonhar?
Se vocês olham pra gente,
é chão que veem por trás.
Pra nós, atrás de vocês,
há o céu, há muito, muito mais!
Quando julgarem o que eu faço,
olhem seus próprios narizes:
lá no seu tempo de infância,
será que não foram felizes?
Mas se tudo o que fizeram
já fugiu de sua lembrança,
fiquem sabendo o que eu quero:
mais respeito eu sou criança!
DA
SÉRIE
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
MARIA AMÉLIA ELÓI
Eu adorava o período do Natal. A cada
ano, montávamos uma árvore diferente (ora com bolas coloridas, ora de uma cor
só, ora com algodão, ora com galhos retorcidos...). Na noite de Natal,
montávamos uma mesa colorida, cheia de guloseimas e rezávamos perto do
presépio. No outro dia de manhã, sempre havia uma surpresa: o Papai Noel
deixava dicas para encontrarmos os presentes, espalhava sapatos pela casa...
Uma farra!
Trecho de “Marcelo,
marmelo, martelo”
(De Ruth Rocha)
Marcelo vivia fazendo perguntas a todo
mundo:
- Papai, por que é que a chuva?
-Mamãe, por que é que o mar não derrama?
- Vovó, por que é que o cachorro tem
quatro pernas?
As pessoas grandes às vezes respondiam.
Às vezes, não sabiam como responder.
-Ah, Marcelo, sei lá...
Uma vez, Marcelo cismou com o nome das
coisas:
- Mamãe, por que é que eu me chamo
Marcelo?
- Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu
pai escolhemos.
- E por que é que não escolheram martelo?
-Ah, meu filho, martelo não é nome de
gente! É nome de ferramenta...
- Por que é que não escolheram marmelo?
- Porque marmelo é nome de fruta,
menino!
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e
eu chamar marmelo?
No dia seguinte, lá vinha ele outra vez:
- Papai, por que é que mesa chama mesa?
- Ah, Marcelo, vem do latim.
- Puxa, papai, do latim? E latim é
língua de cachorro?
- Não, Marcelo, latim é uma língua muito
antiga”...
DA
SÉRIE
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
RICARDO THADEU
Lembro-me de quando meus pais chegavam à
noite com um montão de doces. E o dobro de abraços.
Leilão de Jardim
(Por Cecília Meireles)
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
DA
SÉRIE
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
BIANCA VELLOSO
A casa da minha avó, na Rua
Holanda, em Curitiba. Esta casa aí:
A casa
A casa
a casa que em mim habita
tem um quintal cheio de primos
tem cheiro de churrasco
e barulho de máquina de costura
a casa que em mim habita
tem samambaias e risadas
tem esconde-esconde e pega-pega
e os mistérios do quarto de uma
bisa bugra
a casa que em mim habita
tem joelho ralado de traquinagem
e as broncas de um avô duro e doce
a casa que em mim habita
tem tatu bola e maria-sem-vergonha
e é confeitada com pedaços de
memória
A
Galinha D’Angola
(Por Vinícius de Moraes)
Coitada
Da galinha-
D’Angola
Não anda
Regulando
Da bola
Não pára
De comer
A matraca
E vive
A reclamar
Que está fraca:
(Por Vinícius de Moraes)
Coitada
Da galinha-
D’Angola
Não anda
Regulando
Da bola
Não pára
De comer
A matraca
E vive
A reclamar
Que está fraca:
— “Tou fraca! Tou fraca!”
DA
SÉRIE
“O
QUE LEMBRO DA INFÂNCIA”
POR
HERTON GOMES
Não tenho muitas lembranças felizes da
minha infância. Minha infância é repleta de partidas, de ausências, de
cobranças, de culpas, de saudades camufladas, de medo, de esperas
intermináveis, de promessas nunca cumpridas, de agressão verbal e emocional. De
falta, de pedaços, de rodoviárias, e plataformas de embarque e desembarque. De
separação. Rebobinar a infância só faço quando a poesia se impõe e dá play de trás pra frente feito um filme
trazendo de volta todas as cenas entaladas, represadas, mofadas dentro de mim.
De qualquer modo, minha trajetória pueril não é feita só de consternação.
O sorriso, o afeto, e o perfume de esperança que exalava dos meus irmãos e
exala até hoje, é que de mais puro carrego dentro do coração. E voz doce e
corajosa da minha mãe, lavando e quarando a roupa num sol de rachar enquanto
cantava uma cantiga que embalava o céu, a casa, e nosso quintal. Se numa dessas
artimanhas que a poesia me lança de rebobinar o tempo, eu pudesse ficar em
alguma estação do estação do passado: eu ficaria para sempre num dia de sol,
ouvindo minha mãe cantar e rodeado pelos meus irmãos amados.
- Eduardo! Rita! Laura! Herton! O almoço
está pronto! Lavem as mãos e venham almoçar!
- Vem também mãe!
- Daqui a pouco. Só vou terminar de pôr
essa roupa pra quarar. E vê se para de pisar na barra da calça menino, que eu
sou de máquina de lavar. Se pisar outra vez, escreve: te boto para esfregar.
HORA
DO LIMERIQUE!
(Autora: Viviane Távora)
DUELOS
DOS LIMERIQUES
DUELO 01: BIANCA VELLOSO X HERTON GOMES
BIANCA
VELLOSO
Meu sonho é tocar na lua
a lua toda nua
será que é dura
linda criatura
tal qual uma índia charrua?
HERTON
GOMES
O papai vai chorar em cena
a mamãe não verá problema
junho de manhã
na Rua Sacopã
eu de paquera com um poema.
DUELO 02: MARIA AMÉLIA X NATASHA FÉLIX
MARIA
AMÉLIA ELÓI
Ao crer numa tal tartaruga
que salva o mané sanguessuga,
Senhor Jabuti
saiu do gibi:
“Não quer me ajudar noutra fuga?”
NATASHA
FÉLIX
Quando pula pulava, Caco
coisou o seu coco no toco.
Caco carrapato
tombado e torto
tornou-se um careca moco.
DUELO 03: RICARDO THADEU X CINTHIA KRIEMLER
RICARDO
THADEU
O vento beijou teu cabelo
arranjando um belo novelo
de cordas douradas,
todas afinadas,
CINTHIA
KRIEMLER
A malvada Bruxa do Oeste,
sem bússola, rumou para o leste.
No reino das fadas,
estrada encantada,
vassoura só varre carpete.
sem bússola, rumou para o leste.
No reino das fadas,
estrada encantada,
vassoura só varre carpete.
Não atire o pau no gato (to-to)
Porque isso (sso-sso)
Não se faz (faz-faz)
Ô gatinho (nho-nho)
É nosso amigo (go)
Não devemos maltratar
Os Animais
Miau!!!
Porque isso (sso-sso)
Não se faz (faz-faz)
Ô gatinho (nho-nho)
É nosso amigo (go)
Não devemos maltratar
Os Animais
Miau!!!
SENSAÇÃO
DOS FINALISTAS... EM 01 PALAVRA!
NATASHA
FÉLIX
“GRATIDÃO”
CINTHIA
KRIEMLER
“EUFORIA”
MARIA
AMÉLIA ELÓI
“ESPANTO”
RICARDO
THADEU
“ALEGRIA”
BIANCA
VELLOSO
“SURPRESA”
HERTON
GOMES
“VINGANÇA”
Justificativa de Herton: É uma
honra, uma felicidade, chegar nessa fase do concurso. Os dois últimos dias
passei trancafiado em minha casa. Respirando poesia, estudando, pesquisando,
fazendo experimentos na minha sala, na rede social, em busca de inspiração. No
final das contas, preciso ser honesto com minha poesia. E o poema que grita
para ser duelado nessa fase, é o poema a seguir. A palavra que escolhi é
Vingança. Nenhuma palavra resume com tanta força a sensação de estar aqui.
Levei um pé na bunda há cinco anos e sendo bem franco lá no fundo nunca
esqueci. Mas reverti a dor, em palavra, conto, prosa, roteiro, epitáfio,
jingle, anúncio no Bom Negócio, post, inbox, scrap, carta, torpedo, e-mail e
poesia. E tudo que passei a escrever respira amor, amor e amor. Amor que
invento, que enfeito, que despedaço, feito uma flor. Amor que perfuma, que
fede, que toma conta da casa, do bairro, da vida. Amor que cura, e que deixa a
alma partida. Descobri que tenho dom, um vício, ou uma missão de tudo que tudo
que eu disser haverá amor no meio. Até quando rimo céu com pastel. O
sentimento é seu recheio. E por isso chegar até esse ponto dessa competição. É
uma vingança positiva. Do meu próprio coração. Sofreria tudo outra vez,
ganharia outro pé na bunda, só pra chegar até aqui. Sem amor eu não existiria e
nem teria sido um dos personagens dessa competição. A minha vingança é benigna.
É prima-irmã da superação.
DUELOS
DO TERCETO FINAL
POEMAS
PARA O PÚBLICO INFANTO-JUVENIL
Que
a história original da Bela Adormecida, do Charles Perrault, tem continuação?
Sim! Depois do felizes para sempre, Perrault ainda escreveu várias aventuras
desse “sempre”. A Bela, já bem acordada, teve até filhos. E a Malévola virou
Angelina Jolie. Bem, isso o Perrault não esperava...
DUELO 01
Títulos:
“Helena”
(Bianca
Velloso – SC)
X
“Barquinho
de papel”
(Herton
Gomes – RJ)
Título: Helena
(Bianca Velloso)
Dois grandes olhos castanhos
sempre atentos pra poesia
tímida entre estranhos
em casa tagarela noite e dia
Menina morena voraz leitora
brinca de ser escritora
não sabe definir um soneto
mas já construiu o próprio livreto
Inventa mil brincadeiras
protege plantas e animais
coleciona caveiras
Gosta mesmo de um bom futebol
joga intrépida entre os meninos
depois descansa apreciando o
arrebol.
Título: Barquinho de
papel (Herton Gomes)
Na
minha infância, nunca tive árvore de Natal.
No dia vinte e quatro não tinha essa história de ceia
No dia vinte e quatro não tinha essa história de ceia
a
gente jantava o trivial
e depois ia dormir de barriga de cheia.
No dia vinte e cinco, nunca ganhei bicicleta, videogame
carrinho de controle remoto, abraço de pai, ou bola de capotão.
Eu me distraía olhando as estrelas
jogando bolita, rodando pião.
A caixa d’ água no quintal de casa
e depois ia dormir de barriga de cheia.
No dia vinte e cinco, nunca ganhei bicicleta, videogame
carrinho de controle remoto, abraço de pai, ou bola de capotão.
Eu me distraía olhando as estrelas
jogando bolita, rodando pião.
A caixa d’ água no quintal de casa
era meu oceano
onde feliz da vida eu navegava
com meu barquinho de papel.
A minha infância nem foi assim tão colorida,
mas eu ainda acredito em Papai Noel.
A minha infância nem foi assim tão colorida,
mas eu ainda acredito em Papai Noel.
Que
na história original da Chapeuzinho Vermelho, escrita por Charles Perrault em
1697, ela se chamava Biddy, e o lobo, disfarçado de vovó, come a Chapeuzinho e
fim de papo?
DUELO 02
Títulos:
“Devoção”
(Maria
Amélia Elói – DF)
X
“A
mangueira e o broto”
(Natasha
Félix – SP)
Título:
Devoção (Maria Amélia Elói)
Para
Luana Lis e Mariana Flor
Durante um tantão de tempo
─ do tamanho de dez parabéns
e dez presépios de Natal ─
escrevi pra pessoas grandes
─ dessas com o coco da metade da
porta pra cima
despertador no criado-mudo
enxaqueca perfume trabalho,
diversão muito pouca.
Fiz soneto pra maestro
acróstico pra político
trova pra galã de novela
balada pra padrinho de amigo...
Eu rimava palavras pomposas
─ dessas que usam gravata, tomam
adoçante e dirigem um baita automóvel:
salário com calendário
processo e café expresso
ciência com inteligência
imposto e muito desgosto.
Mas adulto reclama de um tudo:
do porteiro do prédio velho
da areia que suja o sapato
da roupa que amassa depressa
de verso sobrando na estrofe
de beijo breado de doce.
Foi então que você nasceu e listou
novos requisitos
tão engraçados, tão esquisitos:
solte um punzão no meio da bolha de
sabão
todo brinquedo acorde bem cedo
troque a vacina por banho de
piscina
rime sorvete com outro sorvete...
Se me tornei melhor poeta?
Se a verdade me escolhe agora?
Isso é conversa pra boi dormir.
Mas toco o cheiro da fantasia!
Sorrio pra tudo que é lado.
Você besuntando a minha vida
de leite, amor, chocolate.
Eu me entornando inteira
e fazendo acalanto de graça!
Título:
A mangueira e o broto (Natasha Félix)
Mangueira é uma árvore pra lá de
matreira
Mas andava se sentindo só, sem sol,
sem sal.
Desfolhou as pitangas vezes tantas
E tristinha, ficou sem eira nem
beira.
Mangueira é uma árvore pra lá de
festeira
Mas com os homi de fogo e faca, não
tem vez não.
O baile de primavera, onde a fauna
toda se juntava pra farrear
acabou-se ainda no verão.
Mangueira hoje viu uma semente
despontar no chão.
Além de tudo, é árvore pra lá de
esperadeira.
Paciência era seu sobrenome quando
a curiosidade dava olá.
Não deu em outra:
O brotinho germinou
O brotinho cresceu
O broto vingou.
Mangueira, mãe do pasto que um dia
foi mata
Guardou no broto um sentimento bom
A continuação de um futuro bonito
Com esperança enraizada
E de verde pintada.
Que
a Branca de Neve, na história original dos Irmãos Grimm, se chamava Pingo de
Neve? E no final, ela e o príncipe ainda convidam a bruxa má para o casório
deles? A bruxa, ao saber que Pingo de Neve estava bem de vida e continuava a
mais bela do Guiness Book da época, fica tão nervosa que morre... engasgada!
DUELO 03
Títulos:
“Coisa
de gente grande”
(Ricardo
Thadeu – BA)
X
“Rebeca,
a rotweiller roliça”
(Cinthia
Kriemler – DF)
Título:
Coisa de gente grande (Ricardo Thadeu)
Gente grande nunca diz
O que a gente quer saber
Existe tanta pergunta
E ninguém pra responder.
Se o casco da tartaruga
é também a casa dela,
onde fica, então, a janela?
Porque tem dente de leite
e não tem dente de café?
Caranguejo só anda de ré?
Porque a onda vai e volta?
Porque o mar é salgado?
Só tem água do outro lado?
Porque a lua fica magra?
A sombra segue a gente?
A hiena está sempre contente?
Porque a cadeira tem perna
e não usa meia e sapato?
Quem faz os bigodes do gato?
Gente grande nunca diz
O que a gente quer saber.
E se for pra não saber nada
Título:
Rebeca, a rottweiler roliça (Cinthia Kriemler)
RRRebolando
rrrequebrando
rrrevirando os olhos dengosos
bumbum de pelo escovado
unhas cortadas e limpas
pelos brilhantes, sedosos
corrente de prata, elegante
musculatura possante
nariz redondo, empinado
orelhas caídas de lado
RRRebeca, a rottweiler roliça
dama de voz de contralto
se exibe andando no asfalto.
Por ela suspiram pastores
dobermanns morrem de amores
terriers arreganham os dentes
babam berneses carentes.
Mas ela segue sem pausa
sem ver o efeito que causa.
é de raça, uma princesa
pedigree de realeza.
Come ração de primeira
e vitamina importada
nada, salta, anda na esteira
só dorme em colchão macio
e usa edredom no frio
Rejeitado
repelido
rechaçado pelos fortes,
protege-se atrás de um carro
um cão de pequeno porte.
Nervoso, desconfiado
latindo alto, estridente
o corpo magro tremendo
não parece estar contente.
Os sentidos bem despertos
percebem que treme o chão
e assim Escobar, o pinscher
logo enxerga o caminhão.
RRRebolando
rrrequebrando
rrrevirando os olhos dengosos
RRRebeca da voz de contralto
não vê o monstro do asfalto
e passeia distraída.
Então, de repente, ela gira
não anda, não corre, não vira
só vê que não tem saída.
No último instante, porém
alguém com força a empurra
ela ainda não sabe quem
é autor de tamanha bravura.
É o pinscher Escobar
que vigilante, alerta
a salva da morte certa.
O que se diz por aí
é que o amor foi tão grande
que em gigante o transformou
e que Rebeca
a princesa
a rottweiler importante
daquele dia em diante
só por ele se encantou.
(E se alguém duvidar de mim
que imagine um melhor fim!)
CONTINUE
SEGUINDO A TRILHA...
CUIDADO
COM O LOBO MAU...
CUIDADO
QUE A CUCA TE PEGA...
MESTRE
DOS MAGOS COMUNICA:
QUINTA-FEIRA
TEREMOS RESULTADOS!
QUEM
SERÃO OS 4 POETAS SEMIFINALISTAS?
BOA
SORTE A TODOS E...
VIVA A CRIANÇADA!
ASSIM,
TODOS FORAM
FELIZES
PARA
SEMPRE...
2 comentários:
que maravilha, tudo lindo mas a poesia que mais me encantou foi a das perguntas intermináveis que os adultos não respondem. De quem é?
Que post mais delicado e divertido. Dá uma ponta de tristeza de não estar mais aqui figurando nesse meio... Lohan, vc está ficando craque mesmo , hein! O post está lindo. Quanto capricho e dedicação. Esse seu ofício diário para dar o melhor toma muito tempo, vira qse uma segunda empresa de trabalho, eu sei. Deixo registrado nesse post o meu respeito e admiração diante do muito zelo com TUDO que envolve esse belo concurso. Desejo sorte e muita experiência aos poetas. E muito obrigado pelas muitas Letras aqui empreendidas por todos vcs. Abração! Simone.
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