Olá, queridos poetas e leitores!
Chegamos
a um momento decisivo no III Concurso de Poesia Autores S/A: a terceira rodada
da fase de grupos. Na quinta-feira, teremos a definição de todos os 16
classificados para as oitavas de final. Os duelos dessa rodada estão
quentíssimos! Já dá para imaginar quem vai enfrentar quem nas oitavas. Abaixo,
segue a tabela de como ficarão os emparelhamentos. Lembrando que isso já foi
definido desde o sorteio dos grupos. Façam suas análises, poetas!
(clique na imagem para melhor visualização)
Nesta
rodada, os 32 bravos guerreiros da poesia tiveram de elaborar poemas inspirados
em imagens. Será que uma imagem vale mais do que 32 poemas? Vamos descobrir
isso, mais adiante, neste post.
VOTAÇÃO
POPULAR
Desejamos a todos uma ótima leitura e,
claro: não deixem de comentar e votar, no campo dos comentários deste post. A
votação só será válida se o comentarista estiver LOGADO COM A CONTA DO
GOOGLE! A votação será iniciada às 19:00 de segunda-feira e encerrada às 17
horas de quinta-feira, dia 30/10/14. Ao final das 3 rodadas, serão somados
todos os votos dados e elegeremos o poeta vencedor pelo voto popular.
PREMIAÇÃO
DA RODADA
Abaixo,
seguem as respectivas premiações, divididas por grupos:
GRUPO
A
Nathan ou Bianca: quem vencer o duelo
receberá “Do todo que me cerca”, de Cinthia Kriemler. Em caso de empate, será
considerada a classificação final do poeta no grupo.
Danilo ou Jacqueline: – mesmo esquema
anterior – “Sob escombros”, de Cinthia Kriemler.
GRUPO
B
Dora ou Herton – quem vencer o duelo
receberá “Um esboço de nudez”, de Nathan Sousa. Em caso de empate, será
considerada a classificação final do poeta no grupo.
André ou Hugo – mesmo esquema anterior –
“Um esboço de nudez”, de Nathan Sousa.
GRUPO
C
Álvaro ou Adalberto – quem vencer o
duelo receberá o livro “Tio Francisco” de Jacqueline Salgado. Em caso de
empate, será considerada a classificação final no grupo.
André ou Bruno – mesmo esquema anterior
- livro “Coletânea Prêmio Off-Flip”, doado e com participação Jacqueline
Salgado.
GRUPO
D
Isadora ou Raimundo - quem vencer o
duelo receberá o livro “Palavras de areia” de André Kondo. Em caso de empate,
será considerada a classificação final no grupo.
Andressa ou Simone – mesmo esquema
anterior – livro “Contos do sol nascente”, de André Kondo.
GRUPO
E
Ricardo ou Marília - quem vencer o duelo
receberá o livro “Dança dos dísticos” de Francisco Carvalho Jr.. Em caso de
empate, será considerada a classificação final no grupo.
Gerci ou Luiz Otávio – mesmo esquema
anterior – livro “Dança dos dísticos”, de Francisco Carvalho Jr.
GRUPO
F
Maria Amélia ou Desirée – quem vencer o
duelo receberá o livro “Formol”, de André Oviedo. Em caso de empate, será
considerada a classificação final no grupo.
André ou Francisco – mesmo esquema
anterior – livro “Formol”, de André Oviedo.
GRUPO
G
Danielle ou Georgio – quem vencer o
duelo receberá o livro “Coletânea Elos Literários”, doado e com participação de
André Anlub. Em caso de empate, será considerada a classificação final no
grupo.
Cinthia ou Marcelo – mesmo esquema
anterior – livro “O melhor de poesia encantadas – vol. 7”, doado e com
participação de André Anlub.
GRUPO
H
Natasha ou Thiago – quem vencer o duelo
receberá o livro “Luiz Otávio Oliani – Entre-textos”, de Luiz Otávio Oliani. Em
caso de empate, será considerada a classificação final no grupo.
Jorge Augusto ou Francisco – mesmo esquema
anterior – livro “A eternidade dos dias”, de Luiz Otávio Oliani.
POEMAS
DA 3º RODADA
GRUPO
A
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
“Hiato”,
de Danilo Fernandes
X
“De
como silenciar canções”, de Jacqueline Salgado
Título: Hiato (Danilo
Fernandes)
À
minha volta, homens sisudos
estremecem gravemente.
Vejo-os
incautos do meu ponto
equilibrado
de doçura.
Que
homens perdidos em si,
logo
fertilizarão o chão pisado.
Quanta
agressão indumentária,
nesta
pesada combinação inerme.
Não
irão me corromper com pele
vincada
de história inconclusa.
Olhar
essa face infantil não põe medo
me
faz ser muda, me faz ser Deus.
Título: De como
silenciar canções (Jacqueline Salgado)
Tinha mãos de espinho porque destruíste as rosas. Eu, também rosa,
desabitei o seu gesto, com o que restara de minhas asas de gelo.
Tocamo-nos apenas no silêncio
por trás da tarde, levemente crivado
de palpites acinzentados. As horas ficam.
Curvam-se ágeis as palavras mortas, em um ou dois
bagaços da memória. Estrelas
se desdobram por baixo revirando minhas metáforas
todas repousando delicadas
por ironia da noite.
Cerro os olhos de dentro para não ver a espera.
Por fora, sou um jardim atento.
Verdades sobre ti
passam-morrem,
escoam et caeteramente
pelos olhos cúmplices do entorno.
Eis-me na dor da hora suja. Eis-me
secreta, hermética, profunda, divagada
pela rosa muda que sonhei, em mim.
Movo-me cada vez mais distante dos teus riscos
e o que vês em mim, é o seu único
refúgio.
Eu sei, é certo. Não faltarão simulacros
de rosas outras
a desdizer-me enquanto canção,
nem outras mãos miúdas. Nem braços descruzados
à despertar pássaros ferida abaixo.
Nem rosas cantadas em silêncio. Silêncio
grande demais, para se habitar só em gestos.
Tinha mãos de espinho porque destruíste as rosas. Eu, também rosa,
desabitei o seu gesto, com o que restara de minhas asas de gelo.
Tocamo-nos apenas no silêncio
por trás da tarde, levemente crivado
de palpites acinzentados. As horas ficam.
Curvam-se ágeis as palavras mortas, em um ou dois
bagaços da memória. Estrelas
se desdobram por baixo revirando minhas metáforas
todas repousando delicadas
por ironia da noite.
Cerro os olhos de dentro para não ver a espera.
Por fora, sou um jardim atento.
Verdades sobre ti
passam-morrem,
escoam et caeteramente
pelos olhos cúmplices do entorno.
Eis-me na dor da hora suja. Eis-me
secreta, hermética, profunda, divagada
pela rosa muda que sonhei, em mim.
Movo-me cada vez mais distante dos teus riscos
e o que vês em mim, é o seu único
refúgio.
Eu sei, é certo. Não faltarão simulacros
de rosas outras
a desdizer-me enquanto canção,
nem outras mãos miúdas. Nem braços descruzados
à despertar pássaros ferida abaixo.
Nem rosas cantadas em silêncio. Silêncio
grande demais, para se habitar só em gestos.
DUELO 02
Títulos:
“Caudilho”,
de Nathan Sousa
X
“resistência”,
de Bianca Velloso
Título: Caudilho
(Nathan Sousa)
Moro
em um país que não
me
cumprimenta, onde o meu
melhor
está enterrado. Peço
bênçãos
aos trovões entre
uma
morte e outra, forjando
meu
metal sem brilho. Estou
no
cerne da tela; abstrato e
seco
feito um líder ingrato.
O
que me escapa está impregnado
de
fuga e fome; lavado de língua
e
regresso. O que me transborda
me
depura. Me aceita feito cura;
me
afoga feito excesso.
Título: resistência
(Bianca Velloso)
novembro
de mil novecentos e setenta e nove
primavera
no hemisfério sul
e
era medo o que florescia
no
jardim lá de casa
...
diziam
que o pior já havia passado
mas
a gente engolia ideais
e
vomitava escuridões
a
gente calava o que sentia
...
quando
aqueles homens cinzas
levaram
meus pais
deixaram
no meu peito
esta
pústula acesa
que
carrego até hoje
...
criança
exilada da infância
:
existo,
resisto, insisto
GRUPO
B
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“Nunca
mais”, de André Oviedo
X
“Não
reciclável”, de Hugo Costa
Título: Nunca mais (André
Oviedo)
há assuntos
que viraram
feridas
ainda assim
arranco a casca
deixo a pele
exposta
até achar
uma resposta
que me satisfaça
e a paz
transforme tudo
em nunca mais.
Título: Não Reciclável
(Hugo Costa)
Outubro
de
dois mil e quatorze.
A
tarde se despede
na
rua Deputado Álvaro Gaudêncio,
mais
conhecida como Rua das castanholas
e,
na calçada do residencial Gabriela,
-
entre os frutos amadurecidos pelo tempo -
Uma
imagem prematura:
não
é um morador de rua,
que
mais deveria ser chamado de nômade;
muito
menos um recém-nascido
--
apesar da semelhança --
abandonado
numa porta
São
sonhos desfeitos
verões
na memória
dois
filhos em breve
promessas,
viagens
Escritas
à lápis
a
fio,
sem
pressa
numa
noite dessas
de
muita saudade
no
fim,
eu
te amo
dois
nomes e um beijo
do
batom vermelho
que
já fez alarde
na
gola de linho
quando
era pra sempre
é
o velho clichê
que
no amor se faz parte
E
a força da mesma mão,
que
marcou de amor
todo
um corpo,
amassou
sem perdão
toda
a carta
entregue
aos mandos dos ventos
que
varrem as folhas – sem rumo
pintando
de outono a paisagem.
DUELO 02
Títulos:
“Desdobramentos”,
de Dora Oliveira
X
“à
queima roupa”, de Herton Gomes
Título: Desdobramentos
(Dora Oliveira)
Fez-se
homem e poeta
das
dobraduras da infância:
Chapéu
de soldado na cabeça.
Barquinho
na poça d’água da rua.
Aviãozinho
no céu azul da imaginação.
E
a alegria contornou as formas.
A
poesia aflorou em cadernos,
folhas
brancas, pautadas
e
rodapés de jornais.
Em
qualquer espaço
onde
a caneta pudesse
caligrafar
efervescências.
O
homem se descuidou...
Em
fúria inclemente
a
mão do destino amassou
tudo
que era papel
e
jogou no limbo dos desenganos:
O
barquinho, o chapéu, o aviãozinho
e
as centenas de poemas.
As
urgências cotidianas
trataram
de ajeitar sobre a mesa
o
papel ofício timbrado.
Mudaram
os planos,
imprimiram
as planilhas.
Melancolicamente...
O
homem, órfão do poeta,
desdobra-se
em obrigações,
cumpre
horários e acumula pesares.
Comodamente,
o
cartão de crédito rígido
e
o dinheiro aberto na carteira.
O
paletó nas costas
sem
os braços nas mangas.
Oh!
Vida maçante!
Título: à queima roupa
(Herton Gomes)
a
folha tesa
de
rancor e mágoa
mutila
o verso
fulminante:
o
fel
amargo
da palavra
embrulhada
pra viagem
do
amante
que
não comprou
passagem
de volta
revolta
é
agora sua munição:
balas
de goma
mofadas
a
esmo disparadas
atingindo
o próprio coração
quando
a paixão é pouca
ao
poeta fatalmente
resta
a
ironia:
rimas
são
tiros à queima roupa
deliberadamente
à
sua revelia.
GRUPO
C
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“La
vie”, de Adalberto Carmo
X
“A
faixa (de segurança) beatle”, de Alvaro Barcellos
Título: La Vie (Adalberto Carmo)
Quatro pares de patas
atravessam na faixa
- Ato banal simulado no Tempo/Espaço
inúmeras vezes, inúmeros passos – Abbey Road
cruz informe La vie em close da música pop
cantarei agora a tua glória intemporal!
[George]Bangladesh Bangla bamba em embrulhado azul
- Hare Krishna Hare Hare Rama Rama Hare
Hare Krishina Rama – cantando enquanto
[Paul] Govinda vem vindo com um fino a quem convém
pobre pé pelado de abrasado Beat
le Beata tre bien Loka came in throug
[Ringo] Padreco abençoado pedras pelas sombras
ensaia o anúncio do último óctopus & clama
[John] Come back to Earth & purify the rock’n’roll
- Ato banal simulado no Tempo/Espaço
inúmeras vezes, inúmeros passos – Abbey Road
cruz informe La vie em rose da música pop
Seriamos todos sérios se não fossemos translúcidos
pulsar de quasar astral em oito canais.
- Ato banal simulado no Tempo/Espaço
inúmeras vezes, inúmeros passos – Abbey Road
cruz informe La vie em close da música pop
cantarei agora a tua glória intemporal!
[George]Bangladesh Bangla bamba em embrulhado azul
- Hare Krishna Hare Hare Rama Rama Hare
Hare Krishina Rama – cantando enquanto
[Paul] Govinda vem vindo com um fino a quem convém
pobre pé pelado de abrasado Beat
le Beata tre bien Loka came in throug
[Ringo] Padreco abençoado pedras pelas sombras
ensaia o anúncio do último óctopus & clama
[John] Come back to Earth & purify the rock’n’roll
- Ato banal simulado no Tempo/Espaço
inúmeras vezes, inúmeros passos – Abbey Road
cruz informe La vie em rose da música pop
Seriamos todos sérios se não fossemos translúcidos
pulsar de quasar astral em oito canais.
Título: A faixa (de segurança)
beatle (Alvaro Barcellos)
Caminham
calmos
os
quatro cavaleiros (do apocalipse?)
–
os (re)inventores
de
outras ondas e canções
os
arquitetos de uns ventos meio insanos
os
habitantes da lua e da corda-bamba.
E
se tecem o arco-íris da canção
–
em plena primavera aquariana –
abre
John o compasso
cata
estrelas nos bolsos
–
e Abbey Road
os
aguarda logo ali.
Em
que pensam
esses
quatro cavalheiros
ora
em sintonia ora distantes?
Em
que pensam nessa faixa
–
nessa aurora
que
tramam sob a flor desses acordes?
Paul
vai descalço
–
com seu terno chumbo
e
o seu cigarro –
depois
de Ringo
–
a baqueta pulsante
da
moçada flower power.
Por
fim vai George
–
na cabeça um oriente
com
que tempera
o
seu peito trovador
e
que equilibra nas manhãs
todo
seu sonho zen.
Caminham
calmos
esses
quatro caval(h)eiros
mas
resolutos: vão cumprir seu destino.
Porque
jamais puderam esquecer:
já
não espera por ninguém
o
trem da história.
DUELO 02
Títulos:
“A
escolha”, de André Barbosa
X
“abbey
road”, de Bruno Baptista
Título: A escolha
(André Barbosa)
Milhões
de besouros deslumbrados aos brados,
Nutridos
e alienados;
Som
hipnotizante, atemporal e famigerado.
Fotos
estampadas em revistas,
Jornais
e memórias,
Faz
da nossa história um pouco mais abençoada.
Mas
tudo muda ao toque do botão...
Muda
ou fala na opção escolhida,
Rompe-se
a bolha e abre-se o inventário...
Por
cada um, por cada muitos...
Não
quero mais besouros pela sala,
Quero
ouvir pedras rolando descendo o calvário.
Título: abbey road (Bruno
Baptista)
why don't we do it in
the road?,
disseram
com
os pés na faixa
a
cabeça no estúdio
ao
fundo o céu azul
vai
dali até liverpool
GRUPO
D
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“Rio,
de janeiro”, de Simone Prado
X
“Da
emotividade”, de Andressa Barrichello
Título:
Rio, de Janeiro (Simone Prado)
formação plúmbea,...
céu
(rezado)
precipitam
.
.
.
microfones
páginas
de jornais
Título: Da emotividade
(Andressa Barrichello)
Essas
lágrimas salgadas e cruas
transparentes como vidro
Das quais mesmo depois de choradas
não se sabe dizer o sentido
Confirmam nunca o nome de suas nascentes
E bem poderiam ser das gentes e das ruas
Não fossem os olhos vertentes
a torná-las suas
Essas lágrimas
Derramadas quando é noite
Não se saberá nunca
transparentes como vidro
Das quais mesmo depois de choradas
não se sabe dizer o sentido
Confirmam nunca o nome de suas nascentes
E bem poderiam ser das gentes e das ruas
Não fossem os olhos vertentes
a torná-las suas
Essas lágrimas
Derramadas quando é noite
Não se saberá nunca
saudade
ou lenta despedida
Porque são um pranto vazio, açoite
que a gente inventa pra chorar
As dores todas e outras da vida.
Porque são um pranto vazio, açoite
que a gente inventa pra chorar
As dores todas e outras da vida.
DUELO 02
Títulos:
“feliz
natal”, de Raimundo de Moraes
X
“Tudo
pode ser dito”, de Isadora Bellavinha
Título:
feliz natal (Raimundo de Moraes)
o cartão de crédito
explode em fogos
de artifício
a chuva de verão
encharca a decoração
kitsch da municipalidade
o amigo secreto
me servirá estricnina?
é quase meia-noite
estala o chicote
sobre as renas
um papai noel
furioso
Título: Tudo permanece
por ser dito (Isadora Bellavinha)
Tudo.
Tudo permanece por ser dito.
Por ser dito permanece o sonho,
concreto-físico.
Por ser dito permanece o Aleph,
buraco infinito.
Mas tudo,
tudo permanece por ser dito.
Na babel de escombros,
tijolo por tijolo,
erguem-se arranha-céus famintos.
Devoram o ar, impenetráveis blocos rígidos
e Deus – muito longe -
permanece por ser visto.
Sendo quase/entorno/coisa
toda coisa à vista permanece no olhar
e na coisa não dita,
e quando dita
não há nada que satisfaça a vista.
Por isso, toda coisa
é em palavra só pista.
Mas tudo,
tudo só permanece sendo dito,
dita-se a coisa
- agora escrita
bota-se,
pois,
a coisa à vista.
Transvestida a coisa
em palavra transcrita,
já essa é outra,
Tudo.
Tudo permanece por ser dito.
Por ser dito permanece o sonho,
concreto-físico.
Por ser dito permanece o Aleph,
buraco infinito.
Mas tudo,
tudo permanece por ser dito.
Na babel de escombros,
tijolo por tijolo,
erguem-se arranha-céus famintos.
Devoram o ar, impenetráveis blocos rígidos
e Deus – muito longe -
permanece por ser visto.
Sendo quase/entorno/coisa
toda coisa à vista permanece no olhar
e na coisa não dita,
e quando dita
não há nada que satisfaça a vista.
Por isso, toda coisa
é em palavra só pista.
Mas tudo,
tudo só permanece sendo dito,
dita-se a coisa
- agora escrita
bota-se,
pois,
a coisa à vista.
Transvestida a coisa
em palavra transcrita,
já essa é outra,
embaça-se a vista.
GRUPO
E
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“Enredo”,
de Ricardo Thadeu
X
“Enverdecer”,
de Marília Lima
Título: Enredo (Ricardo
Thadeu)
O
homem é um só e se divide
em
mil balões atados por um nó;
é
um elo que, na rua, se bifurca:
nada
busca, além de dissolver-se.
As
portas expõem o ego partido,
inflado
com ar que o outro respira.
Em
mil bexigas de mil mentiras,
Título: Enverdecer
(Marília Lima)
O
moço dos balões
passa
vendendo infância
Contra
o gris cotidiano
floresce
o
buquê multicolorido
Colho
as flores
nos
olhos renovados
Ah,
se uma das flores aéreas
se
soltar,
correrei
para apanhá-la
e,
rindo-me
da lógica enfadonha dos adultos,
subirei
com ela ao céu
para,
com
meu anzol de infância,
enferrujado,
(agora
livre)
pescar
leves nuvens fugidias.
DUELO 02
Títulos:
“Travessia
de cores”, de Gerci Oliveira
X
“Traços”,
de Luiz Otávio Oliani
Título: Travessia de
cores (Gerci Oliveira)
envolta
na esperança ela segue
os
passos completam travessias em pauta
escrevem
no asfalto a leveza do dia que começa
indiferentes
ante o colorido em cascata
marcham
as criaturas
esquecem
a magia
de
levitar feito balão
preso
ao cordão do sonho de ser criança
Título: Traços (Luiz
Otávio Oliani)
as
casas geminadas
veem
a infância passar
nos
balões de gás
reconhecem
o tempo
que
flui silenciosamente
não
choram
frente
à efemeridade
apenas
guardam consigo
o
passado a sete chaves
GRUPO
F
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“Rapina”,
de Maria Amélia Elói
X
“À
espreita”, de Desirée Jung
Título: Rapina (Maria Amélia Elói)
Baila comigo hoje?
─ convida o abutre-do-velho-mundo.
Mas o menino nem dá ligança.
Brinca comigo agora?
─ roga mãe Ísis, regaço fértil.
Mas a criança não crê carícia.
Dessabendo sentir sede da infância
─ pois a dor amadura e entorta
Absorto na carência presente
─ já que a guerra não instrui esperança,
continua firme o garoto:
vivo, teimoso, eterno
pelo menos na fotografia
Título: À espreita
(Desirée Jung)
No
corpo, o homem sente-se vigiado pelo caos da cidade,
que
soterra os seus sonhos, lhe faz carniça, e lhe persegue
com
a arrogância de um urubu. Na carne, a sua criança
se
curva, e sente fome de vida.
É
feito de terra o caminho até a vila, e as rachaduras
do
solo lhe dão sede, a falta de água no campo caótica
e
deixando seus olhos molhados, pedintes. Quando chega
para
visitar a família, lembra-se do útero do mundo.
Na
alma, ele vive em dois hemisférios, um pobre de palavras,
o
outro rico de objetos. Na cidade, é homem feito, solitário.
No
campo, a mata do seu coração abriga elementos estranhos, estrangeiros.
Teme,
como um ser abandonado, a vingança da memória.
DUELO 02
Títulos:
“Clarão”,
de Francisco Carvalho
X
“asas
famintas”, de André Kondo
Título: Clarão
(Francisco Carvalho)
a fome – ave de rapina –
fita o que nos desalimenta,
cada farelo que nos consome:
os ásperos grãos
a fome – ave de rapina –
fita o que nos desalimenta,
cada farelo que nos consome:
os ásperos grãos
de
pão,
de guerras,
de prêmios,
de dinheiro,
de poder...
caberia tudo
num só clarão de espanto ou
num bater de asas sovinas?
a fome, de modo inclemente,
mata com pílulas de culpa,
de exílios e silêncios cortantes!
um sonho de capa de jornal:
em fase de inapetência e autoflagelo,
a fome suicida-se,
com uma garfada,
no fundo da vasilha
em que jantava vazios...
a vida, agora,
depende apenas
da sede de cada ser.
de guerras,
de prêmios,
de dinheiro,
de poder...
caberia tudo
num só clarão de espanto ou
num bater de asas sovinas?
a fome, de modo inclemente,
mata com pílulas de culpa,
de exílios e silêncios cortantes!
um sonho de capa de jornal:
em fase de inapetência e autoflagelo,
a fome suicida-se,
com uma garfada,
no fundo da vasilha
em que jantava vazios...
a vida, agora,
depende apenas
da sede de cada ser.
Título: asas famintas
(André Kondo)
a
morte fecha as asas
e
observa a vida curvada
olhos
semeados no pó
de
onde nada se colhe
a
criança busca
no
seio da terra
o
leite de alguma mãe
inexistente
a
infância em oração
de
preces mudas que na vetusta terra
estéreis
caem
e
nunca germinam
para
alimentar a esperança
o
berço é um árido útero
de
um parto mal acabado
não
há vazio mais vasto
do
que um ventre faminto
parindo
uma criança sem colo
a
morte também tem fome
e
se sacia de outra fome
ainda
maior
que
a devora
com
a paciência do abutre
a
negra morte emprestará
suas
veladas asas ao anjo
que
nesta dura terr’áfrica as perdeu
mas
tais penas não o levarão
a
céu algum
luto,
silêncio...
e
a criança ali sozinha a perguntar:
quem
morreu?
e
a humanidade a responder:
apenas
eu.
GRUPO
G
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“descerteza”,
de Danielle Takase
X
“Quotidiano”,
de Georgio Rios
Título: descerteza
(Danielle Takase)
é cedo e teresa faz café. teresa antes
dos galos, antes dos sóis, antes dos primeiros busões, teresa. prepara roupa de
um pro trabalho, comida de dois pra escola, separa a mistura do almoço e da
marmita. ainda cedo, teresa põe o copo d'água do lado do rádio pra
bênção. faz sinal da cruz, descansa a mão sobre o peito que incansável joga
sobre o tanque e sobre a pia e sobre e sob os móveis. é cedo, teresa, e já me
ensinaram que pra gente da tua estirpe a gente não gasta verso, só verbo: age,
teresa, age que essa gente tragicômica merece pouco. nem choro, nem riso. beira
à insignificância do passar dos dias. nem acabou a manhã e teresa faz de tudo
pouco, sendo ela pouco
−
sentindo menos ainda.
mas
teresa já foi tão mais,
teresa
acorda em sonho e vai varrer as teias de aranha
do
buraco obscuro e poeirento da memória
pra
ressuscitar vontades de doces e
doçuras,
que faziam cócegas
nos
dedos, vontades
de
querer-se
querer
se
quiser
mas eram vetadas pela cruz sobre a cama
e mais tarde viravam pai-nosso-ave-maria culpa introjetada penitência. mas
dorme, teresa, porque do era uma vez te ensinaram a querer mais; dos reinos,
castelos, príncipes, restaram a casa, o marido, a cama, e filhos e tanque
geladeira mesa banheiro fogão enxaqueca livro de receitas. e agarra o
guarda-louças e a boneca de trocar fraldas e veste o avental e senta na frente
da tv e contempla o espetáculo da telenovela nem pisca vê o sangue deitado na
manchete nem se surpreende observa a fofoca dos quilos a mais das rugas
celulites divórcio. segunda terça quarta quinta sexta feira feira feira feira
feira assiste de semblante secretamente estarrecido as vontades se esvaírem com
a poeira. mas teresa, tão querida, quem poderia imaginar. algo mais.
ontem
hoje amanhã
agora
teresa
tédio médio, acre
medíocre
da raiz até as pontas.
teresa
desencontrada
em
busca de coisa alguma.
Título: Quotidiano
(Georgio Rios)
Volto
à velha estrada da tarde,
a
luz da janela em teus olhos
projeta
um filme mudo,
de
quadros compassados,
crestando
suas íntimas colorações,
seus
chamados desenhando a flora secreta
que
habita as cortinas.
As
frestas, na parede, ouvem quietas
o
que conta o lado de fora,
a
dança dos galhos movediços
anuncia
trinados distantes,
resquícios
de notícias longínquas,
lembranças
desbotando, aos poucos,
nos
meandros do dia, que desaba
perscrutando
a infinita espera
pelo
chamado.
Longe
está meu templo:
as
valsas do tempo,
decomposição, que
repartida
na
tarde, se dissipa.
DUELO 02
Títulos:
“Natureza
morta”, de Cinthia Kriemler
X
“Espera”, de Marcelo Asth
Título: Natureza
morta (Cinthia Kriemler)
Às vezes, não há nenhum aviso.
As coisas acontecem em segundos. Tudo muda.
Você está vivo. Você está morto.
(Charles Bukowski)
tenho
cantos prediletos para
esconder as
loucas que me moram
para
deslembrar os eus-
demônios
(máscaras de kabuki
que
comem as minhas carnes
internas
com pauzinhos japoneses
usados
os
medos-inquilinos foram
subornados
por girassóis
de
plástico [amarelos como o riso
o
roupão, o peito da coruja
da
sorte < que namora o pássaro preto >
o
soalho, a parede rachada, a garrafa
de
licor alcoólatra que se bebeu até
a penúltima
gota
;
como as fotos antigas em que
tudo
é história que se conta
distorcendo a
gosto]
não
há rotas para fora (só as de colisão
e
as coisas de dentro fizeram acordo
com a
rotina apática
:
panelas sem tampa. filtro de barro. louça
na
pia. roupa no varal. tábua de passar
a
vida a limpo
na
estante, um embornal de ácida
emergência
— hilda, leminski, bukowski
rimbaud
—, para aplacar
condescendências
na
cômoda, um telefone desbotado
para
emprestar à solidão nos dias
em
que ela não me suporta
Título: Espera (Marcelo
Asth)
Depois
dos seus olhos,
Nada
mais.
Tudo
em torno, mero adorno.
O
ar abafado de ais...
Por
dentro, paisagens nossas.
Desdobro
ao dobro as imagens:
Montanhas
degelam grossas,
Eu
rio alagando demoras,
Paredes
se racham porosas –
Seus
olhos abrindo passagens.
Eu
crio, alargando as horas,
Roteiros
de expectativas,
Vontades
massivas, missivas,
Furtivas,
festivas, festeiras.
Sinto
a ideia voando ao longe
Como
pomba mensageira.
O
tempo se parte na tarde
No
extático estático estado.
Estar
contigo em mente,
Sem
estar contigo ao lado,
Permite
que eu nos reinvente
Num
filme feliz desbotado.
Depois
de seus olhos – pudera! –
Desfolho
os roteiros da gente
Em
cenas pruma primavera
Ornada
de flores carentes,
De
plástico, tecido e quimera,
Descritas
nos toques candentes
Em
escrita que nunca se encerra.
(E
os seus olhos em mim tão presentes
Filmando
os meus olhos de espera...)
GRUPO
H
3º
RODADA
IMAGEM TEMÁTICA:
DUELO 01
Títulos:
“Xeque-mate”,
de Francisco Ferreira
X
“Avant-garde
(ou
uma legenda para Capa de um álbum de guerra)”, de Jorge Augusto Silva
Título: Xeque Mate
A
cada dia igual aperto os parafusos
que
me sustêm a máscara.
Escamas
de culpas
obstruem
a visão de tardia fênix .
Minha
atiradeira em repouso, funda calada.
Assim,
estou, Excalibur embainhada na pedra.
De
dedos tortos
A
sorte já preDESTINOu as regras do jogo:
Ganham
as pretas.
Título: Avant-garde
(ou uma legenda para
Capa de um álbum de guerra) (Jorge Augusto Silva)
I
no
silêncio preto e branco
da
película
a
guerra segue sua narrativa
duplicada
entre
vida e jogo - metáfora -
olho
por olho
um
soldado enfrenta outro
a
rainha
não
entra no quadro
desfocada
ao fundo
no
xadrez ou no pentágono
II
no
desenho preto e branco
do
tabuleiro
o
soldado sonda seu duplo
espelho
que
refrata a imagem que abarca
entre
referente
e referência – a guerra
delata
‘no
campo dos signos’
a
batalha que se trava
entre
o soldado e o nada
III
mas
esse caminhar para o abismo
exercício
do
soldado quando se move
no
tabuleiro
(campo
minado / semiose da morte
totem
e tabu
para
o soldado) serve de metonímia
do
beco
sem
saída que é a vida - xeque-mate
ou
morra - o que está em jogo
é
preencher o vazio a socos.
DUELO 02
Títulos
“Engatilhados”,
de Natasha Félix
X
“Especular”,
de Thiago Carvalho
Título: Engatilhados
(Natasha Félix)
as
trincheiras não marcam territórios.
dividem
lares, carregam corpos
corações
furados de bala
dentes
rangem pecados
[queimam cartas. sonham branco. soletram nomes. pintam
números: quantos foram? quantos sobram?
marcas
sepultadas em sacos fechados
de
um mundo sem eco.
de
um mundo sem nada.
gritos
flechados ao vento
-
inconclusos,
a
Capa que veste as batalhas
há
muito deixou o campo
quando
o fotógrafo engoliu a mina
seu
legado foi a condição
:
viverás
teus exatos, teus planos
mas
terás que lidar com retratos
da
solidão
de
uma época em que o poço mais fundo
mirava
no outro
e
atirava no pé.
Título: Especular
(Thiago Carvalho)
Cada olhar fixo se refez
Congelado margem a margem
Do preto e branco do xadrez
Cada olhar fixo se refez
Congelado margem a margem
Do preto e branco do xadrez
Ao preto e branco da imagem
POESIA POESIA POESIA POESIA
Até quinta-feira, com os resultados e a definição dos confrontos
das oitavas de final!
Parceiros:
47 comentários:
Meu voto vai para "Clarão", de Francisco Carvalho.
Que poesia mais linda é essa, " Espera", do Marcelo! Quanto intimidade com as palavras! Amei, amei todas aquelas imagens delicadas e lindas.
"(E os seus olhos em mim tão presentes
Filmando os meus olhos de espera...)"
Ai, Ai... esses olhos, quase que morri!
Clarão!!! Carvalho Junior, poeta espetacular!
O autor conseguiu ler bem a imagem e trabalhar com as palavras, respondendo muito bem à proposta, trazendo o tema da fome de maneira muito poética. Muito bom, Carvalho!
Meu voto é para " Clarão" de Francisco Carvalho
Meu voto é para " Clarão" de Francisco Carvalho
Não estou conseguindo votar.
Voto em "Asas famintas", do grande André Kondo.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
Um belo poema.
Clarão de Francisco Carvalho nos faz ter sede de buscar uma saída pra essa fome que nos consome.
Mais um lindo poema de Andre Kondo. Votado, amigo.
Meu voto é para "Clarão" de Francisco Carvalho
Meu voto é "Clarão" de Francisco Carvalho.
Primor de texto de André Kondo, meu voto é pra ele.
Meu voto é para " Clarão" de Francisco Carvalho.
Este poema é forte e marcante!!
Parabéns poeta, Caxias/MA está bem representada!!
Clarão!!! Carvalho Junior, poeta sem par !!!!
São tão chatos que eu não consigo nem ler...
Vamos todos com o CLARÃO de Francisco Carvalho.. meu voto é dele
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
Meu voto: Clarão- Carvalho
Junior
voto em CLARÃO, de Francisco Carvalho.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
Vamos todos com o CLARÃO de Francisco Carvalho.. meu voto é dele
Gente, claro que pode vir e votar no poema do amigo, embora esse não seja o espírito da brincadeira. Mas não muda nada. O problema é votar anônimo e fazer isso varias vezes na mesma hora. Não precisa copiar e colar o mesmo comentário. Muito chato isso!
Dá seu voto, no seu amigo ou no poema que gostou mais (o que era pra ser) e pronto.
salve!
"voto no poema CLARÃO, de Francisco Carvalho.
Voto no poema de Carvalho Junior: Lindo.não fala do pão, mas fala da sede e da fome do " filhos do padeiro"
Meu abraço aos amigos das letras! Não li todos então não me acho apto à votar! Venho só deixar meu alô!
Muita inspiração a todos!
meu voto vai para
"Asas Famintas" André Telucazu Kondo
Voto no poema Clarão de Carvalho Junior
Meu voto:
A faixa (de segurança) beatle (de Alvaro Barcellos)
voto CLARÃO de Francisco Carvalho
VOTO NO POEMA CLARÃO, DE FRANCISCO CARVALHO!
Voto no no poema resistência de Bianca velloso
Gostei do entrecruzamento de imagens e ideias do Francisco Carvalho.
Fica mesmo tudo muito claro, é tudo muito claro: a vida não é propriedade, nem caridade, viver não é caridade, caridade não é o caminho. O abutre é o ser mais caridoso que existe: não mata, só espera morrer, para assim poder viver. A foto e o poema são claros: do quê nos orgulhamos? Carvalho, meu voto é para você, com seu "Clarão", lampejo de inteligência, sensibilidade humana.
VOTO NO POEMA CLARÃO, DE FRANCISCO CARVALHO!
"Resistência", de Bianca Velloso.
o meu voto:
A faixa (de segurança) beatle (de Alvaro Barcellos)
Bom dia,
A leva elevou-se qualitativamente em comparativo com as anteriores. Notei tentativas de ousadia, muito embora ainda estejam aquém de triunfantes feitos.
A imagem do caudilho versus a rosa, tomando como suporte os poemas do grupo, é significativa. Os poetas se safaram. Escrever sobre imagens significativas denota um risco maior. O poeta jamais superará a força da imagem e tentar alcançar este feito resultaria em preciosismos baratos. Os dois primeiros poemas beiram o preciosismo. O poeta Nathan se mostra mais claro sem perder a batuta da metáfora e com isso ganha pontos. Azar de sua adversária.
Bolo de papel amassado. O que diz essa imagem? 'Nunca mais' traduz somente através do título/desfecho. O poema em seu ínterim foge à proposta.
'não reciclável' é um poema a ser destacado. O poeta Hugo se mostra bom competidor, definitivamente. Não fosse o título ruim seria um poema para ser lembrado. Olho nesse poeta.
'Desdobramentos' é um poema bonito que NARRA a trajetória de um poeta que precisa pagar as contas. Ponto. A poeta não se desapega do tom narrativo, embora tenha dado sinais de avanço. A intenção do desfecho cacófato não me agrada: 'amaçante', papel amassado. Verso desnecessário, que prejudica o desfecho.
'à queima roupa' está na medida certa. Não é o melhor poema do autor em questão mas comunica satisfatoriamente. É bom que preste atenção nos jogos pobres de palavras: 'volta' e 'revolta' não vale.
Beatlemaníaco que sou, dispus de um olhar mais exigente neste grupo. 'La vie': alguém traduz? Help, a need somebody that be a translator. O jogo 'la vie en rose' com 'la vie en close' não valeu. O poeta abre mão do sintetismo para um emaranhado de beatletices.
'Faixa de segurança' tem título convidativo. Mas só. Descrição dos caval(h)eiros não vale. Tampouco da imagem. Estou vendo que o Paul usa terno chumbo. Todo mundo conhece Beatles (retifico-me: ainda existe gente burra). Não foi dessa vez, poeta.
'escolha' foi uma escolha infeliz. Besouros? Santo Deus.
Salvemo-nos com 'abbey road'. Assim que se faz.
Se chove lá fora, nasce poesia. Boas. 'rio, de janeiro' mais uma aula de como se provoca um leitor com entrelinhas. 'da emotividade' é outro poema tocante que desvela sem pieguice a comoção humana muito mais do que a dor melosa de um amor.
'feliz natal' é um dos melhores de toda a leva. Olhar através do vidro e enxergar a festa natalina e todas as animosidades e falsidades inerentes ao evento (o qual odeio) e talvez por isso tenha me identificado de tal forma com o poema.
'e Deus muito longe permanece por ser visto' é um bom verso de um bom poema que vai se extrapolar por dois simples motivos: fuga à temática (o desfecho é forçado) e adversário forte. Pelo menos percebe-se que a poeta evoluiu e não encheu mais linguiça.
'enredo' vale só pela primeira estrofe. Arrebatadora. Lê-se Freud e a teoria do inconsciente. Lê-se com perfeição o superego humano. O poeta adotou um estilo que me parece zona de conforto. Time que está ganhando não se mexe. Odeio esta assertiva. Quebrar o ritmo e arriscar uma nova estética apraz e se faz essencial em uma competição.
'Enverdecer' é um poema encantador. Lê-se 'em ver descer' o anzol da infância, em um desfecho primoroso. A propósito, uma característica nata da poeta, boa em desfechos.
Definitivamente, o grupo dos balões promoveu os melhores poemas da leva. 'Travessia de cores' e 'Traços' são leves como o helium dos balões. São até mesmo semelhantes em suas 'pegadas criativas', diga-se de passagem.Se o poeta Luiz produzisse poemas desse nível desde o princípio, teríamos aqui um forte candidato.
'Rapina' é outro poema arrebatador. Me arrancaria uma lágrima não fosse seco o meu solo. Revelar uma imagem tão aberrante é serviço difícil. A poeta bebeu em Manoel de Barros em seu neologismo poético sem ser pedante e criou preciosidades como 'dessabendo sentir sede da infância - pois a dor amadura e entorta'. Memorável.
Não fui capaz de abstrair a proposta de 'à espreita'. A poeta se situa numa zona de conforto que me desagrada. Versos forçados como 'na carne a sua criança se curva e sente fome de vida' não desce pra hoje.
O jogo fome-sede de 'Clarão' me agrada mas falta algo de impacto no poema. Gosto do final de 'asas famintas' mas percebo excesso de estrofes. Termos como 'negra morte' também me incomodam.
O que dizer de 'descerteza'? Que não tenho certeza. Fantástico poema ou fantástica prosa poética? Eu queria ter esse peito da poeta: siliconado de coragem. Aplausos pela teresa memorável e pela ousadia, sempre bem-vinda.
'Quotidiano' é outro poema de destaque, merece atenção. 'a dança dos galhos movediços anuncia trinados distantes/resquícios de notícias longínquas' é um verso para se guardar em especial aposento.
'natureza morta' tem desfecho brilhante, mas 'espera' tem desenrolar brilhante. Desliza pelos olhos como música. Do primeiro ao verso derradeiro, um primor.
Xadrez e guerra e Capa. 'Avant garde' destaca-se pela leitura mais acertada da imagem, sem cair em obviedades. 'Engatilhados' também me agrada. 'Especular' é sintético e ganha pontos. Mas não diz a que veio. Lê o efeito imagético, não os elementos que compõem a imagem.
Votar? O fã-clube amigos para sempre do poeta-árvore deu o Golpe no espaço está tudo tomado. Mesmo assim, cravo meu voto: 'espera'.
Que vençam os melhores.
Aguardem que volto.
Cordialmente,
F.N.V
Vou de CLARÃO, de F. Carvalho
Meu voto vai para "Clarão", de Francisco Carvalho.
Meu voto é para o poema "Clarão" de Francisco Carvalho. Seu "Clarão" surge de um jejum que janta vazios.
JIVM
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