sábado, 8 de março de 2014

de vagalumes e esperas


(Por Dani Santos)

era como um eco, sabe. a realidade toda descolorida, manchada. as incompreensões todas espalhadas pelo chão da sala. eram os anos, passando. os meses, os dias. as manhãs que se abrem e fecham. era amor? as verdades recolhidas, oculta nos velhos retratos. eram as fotos queimadas, os olhos vermelhos pelo choro. era o cigarro, a espuma, o verso, o mandamento. o escuro, as visitas inesperadas, as horas sem cabimento. a vodca. o gelo seco. o gole raso. as distâncias e imprecisões todas, todas. era maior, o silêncio. era maior, a falta de paz, a impaciência. e depois, todas as coisas indignas. tudo em tom menor. tudo menor, ainda que não. tudo menor, ainda que sempre. como um quase, sabe? mesmo que quase seja um tanto odiável. antes as coisas doloridas. antes o amargo da língua, antes mesmo a dor. o fel, o absurdo. mas o indizível que vai ganhando espaço e tornando tudo prenhe de outonos e preenchendo todas as memórias e espaços e aí? e aí? alguém aí? alguém atrás da porta, de onde vem os passos soltos e contaminados de mistério sempre válido? eis, então, o mistério! a matéria mais bruta onde todas as coisas se deitam e se projetam, vivas ou estéreis, para o fora. para o sem rumo e para o inalcançável, onde se é tudo e nada. onde se cai e se levanta. e se diz sobre arranhões e protestos e os progressos não são contados no relógio. lá onde o tempo pára e só resta lugar para o inominável. e é já. é agora. mesmo que venha de longe. ecoando, ecoando. ressonâncias nos vazios e esperas. era amor? é? parecia um começo e um fim. e depois um começo. e depois. 




... E, como hoje, 08 de março, se comemora o Dia Internacional das Mulheres, deixo aqui também um pensamento-poema de Clarice, para nos lembrar com toda a intensidade o que somos...

“Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser uma pedra. Ela é uma chuva.
Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo é uma alegria mansa.”