segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cartas rápidas.












“Momento PARDante”





por mares

nunca

por Dante

navegados

segue O Velho

bilhete

na garrafa

papel em branco

vazio de letras

que tudo

que queria dizer

pareceu

irrelevante

frente à possibilidade

de leres

nas entrelinhas

daquilo que não

foi escrito

a PAR do que

o teu pensamento

poderá criar...





PAR - PT 05 FEVEREIRO 2013

13:45




&*&*&*&*&*&












“PAR de dois”





Par de dois

sempre pode ser um,

o mistério se decifra

nas entranhas do oceano

que de tão pequeno

não separa

velhos corações.




o VELHO

se renova

quando sova letras indiferentes

no passado presente

de um PAR de rimas...




o VELHO PAR

se afina..."





Dante Pincelli O Velho-BR 05 FEVEREIRO 2013

13:49

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mais


Mais. Esse sempre foi o maior problema da sua vida. Mais abandono, mais tristeza, mais revolta. Tudo feito de exagero e atrevimento. Comia, chorava, sofria a mais. E amou demais, com um desses afetos que não se sabe se arrancam a alma ou se pisam a existência. Foi tomado de um amor carnívoro, urgente em consumir, apressado em seguir adiante, em direção a mais corpos, mais sexo, mais despedidas, mais silêncios.
Tornou-se, assim, homem desconfiado, complexado, tímido. Muito além do que deveria ser um homem razoavelmente feliz. E incapaz de ser ou de ter em metades, em poucos, perseguiu os excessos até a imensidão do nada.
Em um tempo já de muitos nadas, descobriu a bebida. A companheira que o fez mais alegre, mais falante, mais próximo daqueles que se juntavam a ele em seu abismo fundo e escarpado de carências plurais. Marcaram encontros semanais, depois diários, até que se decidiram, finalmente, por um mesmo teto.
Deixou de ser visto nas ruas. E nos botecos. Ou sentado na sarjeta com a cabeça entre as mãos, barba por fazer, unhas sujas. As garrafas, em cores várias de ilusão, desapareceram da lixeira grande que fica em frente a casa. Recolheram-se com ele ao chão imundo do quarto que fede a desistência.
Ele está lá. Ainda está. Dentro da casa branca de paredes descascadas. No quarto de chão fedido. Dizem que insiste com a morte para que venha mais cedo, mais rápida, mais ávida. Para convidá-lá, abre mais uma garrafa. E brinda. Muitas vezes.
... Mais...
Esse sempre foi o maior problema da sua vida.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

móbile


por quantos caminhos haveremos de passar então? enquanto o silêncio percorre veias e cicatrizes e abre espaço para esse desamparo lento. eu que não sei principiar  o mundo com adjetivos. esqueço. e às vezes ouso fazer a pergunta pior e me debater entre o suor frio e o medo afiado da incompreensão. eu que mal posso dizer eu e digo, contrariando a ordem certa das coisas indizíveis, sigo. tentando aprender  o que se quer leve e bonito, sem o peso das certezas fáceis, sem esses ombros caídos. é tarde e o corpo já dói. mistura de vida seca que não se quer mais na aridez dos mistérios. enquanto fujo do que é prolixo me pego às voltas com essas repetições todas.  ecos de mim, sabe? o azul reverberando pela sala, pela casa, pela vida toda que se era, sempre sem saber. e é quase sem querer que tenho passos quase sempre trôpegos. as incertezas em minhas mãos fazendo cirandas. fico pintando em cores de derrota as paredes e os ventos do quarto. e me gabarito na hesitação. mas se é sem fim a noite e já não há mais festa cabível, o que se há que fazer além de habituar-se? há que trocar as roupas então, refazer cama rima corpo e pele, semente. se despir dos medos e dos velhos modos. beijar a vida assim crua que vai se abrindo.  se abrindo se abrindo. nessa reinvenção diária de todas as versões do que vou sendo. mesmo sem me saber bem.

domingo, 7 de abril de 2013

quinto


a canção repetia:

...que parece que estou carregando os pecados do mundo.
...que parece que estou carregando os pecados do mundo.

como um refrão de acusação
uma constatação relativa baseado
em particular perspectiva sem nenhuma confirmação divina

a primeira canção da estrada que ouvia na radio
embalava estranhos sonhos de viagem

o que teria vivido se abandonasse a casa paterna
e movido pelo rock rural partisse sem destino pela estrada

seria possível recuperar nessa altura da vida essa jovialidade ingênua
seria possível ainda cantar o refrão da antiga canção

tantos anos  passaram quase despercebidos
quebrando certezas
restou apenas a primeira canção da estrada
quase intacta cantada na radio imaginária
insistentemente tocada dentro da saudade de um tempo que não aconteceu.