sábado, 10 de novembro de 2012

Jesus e Platão contra o Bonde das Morceguetas



O Novo Testamento nos conta que há mais de dois mil anos Jesus Cristo impediu uma adúltera de ser legalmente apedrejada, pois já naquelas priscas eras o Messias considerou que o ato de atirar pedras em uma mulher, ainda que pecadora, era uma ação brutal e, por isso, inaceitável, justificando-a como demasiado hipócrita, porque todos que julgavam a mulher também eram no devido contexto "foras-da-lei". É quase isso: se tenho cuecas de bolinhas amarelas sob minhas calças, eu não deveria atormentar a vida de quem as tem no armário. Esse é um dos princípios da honestidade. E da sanidade mental. Mas eis que dois mil anos depois de Cristo, ainda atiram-se pedras. Mas dessa vez não foi sobre uma personagem bíblica legalmente condenada à morte, mas na vida de uma menina brasileira do século XXI que age sabendo que pode ajudar a melhorar as coisas. Opa, Cristo também não agiu sabendo?  

 Podemos dizer que essa menina é de pedra, mas preciosa. É de ouro, mas também é de fibra; uma menina que não quer ser melhor do que ninguém, que simplesmente tem atitude, que age em nome do que é para todos, ou seja, trata-se do que deveria ser de interesse coletivo. Mas a tal atitude dessa menina, a crença dessa menina parece ter como princípio o Absurdo, que remete a um outro bem maior e este sim, digno de sê-lo: essa menina de ouro seria quase única? Quase tão luminosa e solitária que se tornaria num bater de asas uma aberração em caverna infestada de morcegos adormecidos, e como não podia ser diferente, de cabeças lá para baixo? Ora, então aproveitem esse raio de luz, morceguetas da nossa caverna, primitiva e progressivamente mais obscura sociedade. E de uma vez por todas, tenham visões sensíveis e pratiquem ações inteligentes na vida, sobre o além-mundo que as cerca. Façam-se homens e mulheres. Falta muito, eu sei, talvez a pequena distância de uma utopia para essa tal consciência pra lá das cavernas da ignorânica e da bestialidade florescer. Mas isso tudo é a vida, e que bom, olha a vida nos surpreendendo outra vez com o Bem, quando tudo parece Mal.


A menina é Isadora Faber e ela tem um "Diário de Classe" no Facebok. Ela pecou contra o sistema: corrupto, negligente, ineficiente e atrasado.  

Camillo Landoni

fonte: inpurolandoni.blogspot.com

Um comentário:

Lohan Lage disse...

Meu amigo, que belo texto, realmente o que essa menina faz, tão espontaneamente, é apenas exibir um retrato, de uma parcela mínima, porém muito representativa, da corrupção e do descaso de uma sociedade, como um todo.

Abraços!
Lohan